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Algo me preocupa na mídia, a personificação da tragédia. Muitas das catástrofes naturais ou calamidades sociais são tratadas pelos meios de comunicação com a personificação do fato. Se busca um ser humano que expresse ou a dor extrema ou a esperança absoluta e se faz de sua história o resumo do acontecimento. Isto é justo?
Quanto mais personalizamos o fato social, quanto mais na particularidade buscamos uma referência para um drama coletivo, estamos assassinando a consciência. Estamos destruindo a possibilidade de entendermos a dimensão dos problemas e o quanto eles nos afetam.
Quando falamos de esperança, quando falamos de superação, e demonstramos um ser humano superando os seus limites, consideramos ser possível a todos a superação. Geramos uma crença de que o ato de cada um determinará o seu futuro. Propagamos isso.
Considero fundamental as pessoas terem o compromisso com o enfrentamento e superação dos seus obstáculos, dos seus problemas. Porém, um fato social é uma condição que não envolve um indivíduo como exemplo ou resumo, é toda uma complexidade que deve ser entendida na sua real dimensão. Quem trabalha com a informação deve ter este compromisso.
O temor é de que distorcemos a compreensão da realidade. E fazemos isso, em uma proporção maior do que os que foram afetados pela tragédia divulgada e tratada pela particularidade.
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