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Dizer não é um sacrifício, sequestrados pelo desejo de agradar e temerosos pelas consequências da autenticidade, acabamos dizendo “sim”, quando na verdade queremos mesmo é dizer “não”. No fundo, estamos dizendo não a nós mesmos. Estamos nos queimando para aquecer o outro.
O correto seria aquecermos quem necessita e queimar quem merece. Não significa ser rude, agressivo, invasivo, apenas ser autêntico. As pessoas precisam saber os limites que tem com você. E limites são demarcados por atos e não pelas intenções. Podemos projetar inúmeras coisas nos seres humanos, mas eles são sempre outros, nunca são o que nós somos.
Parte considerável de nossas falhas ao dizer sim aos outros é porque consideramos que as pessoas têm conceitos e valores idênticos a nós. Aquele para quem dedicamos atenção saberá o valor que tem e retribuirá com a mesma intensidade.
Consideramos que este outro a quem nos dedicamos tem a mesma escala de importância que nós temos. Queremos, também, obter do outro uma atenção que falta a nós mesmos.
Quando descobrimos que estamos vivendo uma vida para o outro, já é tarde. Às vezes estamos envolvidos a tal ponto que não sabemos recuar. Pior, já não sabemos quem somos.
Claro, buscamos uma reciprocidade. Porém, esta reciprocidade é destruída por uma projeção excessiva e desconectada da realidade. Não buscamos conhecer as pessoas como elas realmente são, estamos mais preocupados em realizar nossos desejos em relação a elas do que conhecê-las efetivamente.
Por isso, em uma cultura deve-se ter claro a reciprocidade. O que fazemos para alguém e o que teremos em troca. Como estabelecemos relações entre as pessoas onde a nossa ação busca uma determinada reação. Isso é comum e necessário. Em qualquer relação civilizada há uma reciprocidade racional, lógica e necessária.
Um exemplo simples é que em nossa vida temos inúmeras pessoas que exercem cargos de comando e liderança. Pessoas que assumem o papel de nos direcionar e educar. Somos, às vezes, desde muito cedo, orientadas a agir com estas lideranças de uma determinada forma esperando delas reciprocidade.
Em situações de decisão em que o comandado não está habilitado para decidir, quem decidirá? Claro que é o líder, aquele que tem o comando.
O grande problema é quando a reciprocidade sequestra a emoção das pessoas envolvidas, a partir deste momento estamos diante de uma distorção de valores, como falamos anteriormente. A reciprocidade deixa de ser construída pela razão da função e passa a ser orientada pelo desejo, afetos, dos envolvidos.
São raras as relações que conseguem se manter em respeito misturando racionalidade e afetividade de forma intensa. A emoção, em regra, tende a engolir a razão e provocar um estrago na relação. Há sempre aquele que será escravizado pela situação e o outro que saberá manipular em seu favor o sequestro emocional ao extremo, podendo ocasionar um estragos na vida do sequestrado.
Nas relações profissionais esta condição ocorre, há sequestradores e sequestrados. Tem quem diga “sim” constantemente e nunca não. Quando avalia o tamanho da concessão que fez ao outro, percebe que sua vida está limitada a um espaço medíocre para deixar outra pessoa viver.
Por isso, como diz o ditado, temos que saber ser como fogo, há quem precisa ser aquecido por nós e há também aqueles que precisam ser queimados. Porém, nunca se queime e apague a sua própria chama.
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