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Vida: permanências e circunstâncias

Como historiador aprendi a analisar as estruturas e as instituições pelas suas durações. Algumas, de curta duração, são casuais. Elas aparecem, as vezes com intensidade, provocam alterações no ambiente, mas despois desaparecem. Quem conheceu o fenômeno se surpreende do porquê, mesmo sendo tão impactante, acabou desaparecendo. Outros elementos estruturais ou institucionais aparentam não ter o mesmo impacto, mas tem uma longa duração. Permanecem, sendo influentes pela longevidade, tradição, constância.

Na vida social e particular as coisas se dão de uma certa forma com a mesma lógica. Há elementos momentâneos que aparentemente ocasionam uma “revolução” em nossas vidas. Há outros, que nem percebemos ou lhe atribuímos valor, que permanecem. Este último acaba por incorporar-se à nossa identidade. Nem sempre consciente.

Em determinados ambientes sociais, instituições empresariais, o que é determinante dentro do perfil da empresa são os elementos de longa duração. Eles acabam por definir o desempenho da empresa e demonstrar o ritmo em que se processa as ações e operações. Tanto para o bem como para o mal. As crises empresarias mais agudas terão nestes elementos a possibilidade de superação ou aprofundamento do ambiente crítico.

Porém, dentro de qualquer relação social nas estruturas institucionais, onde se dá vida a função das empresas, onde a construção da função social da instituição se realiza, os elementos de curta duração também exercem seu papel. O que os faz emergir, ter destaque, ou passarem despercebidos é a intensidade que realizam suas ações e se relacionam com os elementos de mais longa permanência.

Auxiliares diretos de um dirigente, seu secretário ou secretária, seu assessor, o motorista, são alguns exemplos de funções que podem ter curta duração, ou não, e tem uma proximidade com o poder significativa. Aproveitar-se desta proximidade de forma inteligente pode dar ao elemento de curta duração um poder “descomunal”. Isto é possível quando há um elemento casual e ocasional de identificação, confiança, emoção, simpatia e empatia.

Outra análise das relações coletivas, e que aqui estamos direcionamento para o mundo das empresas, são os conflitos constantes entre elementos de longa duração. Rivalidades, polarizações, disputas de poder podem abrir espaço para a ascensão de forças menores associadas a este ambiente. Proteção de peças maiores por peças menores faz parte do jogo de xadrez da vida em sociedade e empresarial. Empresas familiares sãos bons exemplos destes conflitos. Conforme crescem, acabam por denunciar as rivalidades domésticas dentro da corporação.

Há solução para isso para os conflitos e continuidades da relação entre os elementos de curta e longa duração? Existe uma possibilidade de convergência em benefício da coletividade, empresa ou sociedade? Diria que não há perfeição. O que há é identificação de elementos que possam ser orientados pela racionalidade sem se impor plenamente pela impossibilidade. Mas a harmonia plena é impossível. Onde houver pessoas haverá conflitos.

A questão fundamental é o que move os conflitos é o que predomina dentro do ambiente social ou empresarial. O que leva a relação entre os seres humanos que povoam determinadas estruturas e instituições? Quem são as pessoas? Podemos nos surpreender com a resposta.

Os elementos motivadores são diversos para cada um de nós. O que nos sustenta não são a racionalidade pura e simples. Mas os motivadores afetivos, as práticas de segurança, os traumas adquiridos e a convivência influenciadora e estimulante de quem está a nossa volta e nos exercem uma pressão intensa, por mais que imperceptível, muitas vezes.

As grandes revoluções que ocorreram na humanidade foram fruto mais de uma causalidade imediata que fez eclodir a angústia acumulada e se tornou a possibilidade para a implantação de um novo regime. Engano quem considera que os participantes de um movimento de mudança intenso estão unidos pela “bandeira” lógica da propaganda revolucionária. A particularidade conta muito, por mais que se consuma em uma ação coletiva.

Indo adiante com nossa análise, temos que considerar que empresas são educadoras, formadoras de pessoas, de caráter, de valor, de profissionais. Por inteiro. Elas não estão atentas a isso, mas quem passa pelas suas relações e estruturas está sendo cunhado, sendo lapidado. Levará, por onde for, marcas da experiência adquirida, bem assimilada ou não. Muitos são talentos que se perdem por não serem identificados dentro das empresas, das relações. Muitos se vão com rancor por não serem reconhecidos.

Muitas vezes, o ditado de que “só se dá valor quando se perde” tem sua lógica. Perguntado ao peixe, segundo a paródia, o que era o mais importante para ser feliz, ele percorreu inúmeros lugares e ao ser fisgado por um anzol, pescado, descobriu a importância da água que o alimentará por toda uma vida e esteava por todos os lados, mas que ele nunca tinha percebido, até perde-la.

Nos ambientes de trabalho temos que ter a capacidade de perceber qual é o verdadeiro alimento. Onde ele repousa, onde está. Isto deve nos mover. Se ater mais ao que permanece do que se envolver com as circunstâncias.

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