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Sempre quando analiso com meus alunos a “sociedade do espetáculo”, eles costumam afirmar que ela é marcada pela lógica de que as pessoas são o que tem. Não nego que a frase tem sua sustentação, mas precisa ser explicada para ter a dimensão que merece.
Quando a religiosidade cristã discutiu o poder das imagens como canais de ligação com as divindades, o que veio a se denominar de transubstanciação, se defendia a crença de que o objeto tinha o poder de expressar a força do elemento a ele ligado.
Se querem um exemplo de transubstanciação, é possível tê-lo todas as vezes que alguém for a um culto cristão católico e ver a hóstia e o vinho, o que simboliza o “corpo e o sangue” de cristo. Sim, estamos diante de uma antropofagia simbólica. Mas, além disso, há uma transubstanciação. A força está nos objetos.
O crer que o objeto tem em si uma força não é novidade nas crenças de muitos povos. O objeto se sacraliza. Jean Baudrillard, antropólogo francês, já discute o tema há um bom tempo. O elemento de sacralização está nos rituais litúrgicos ligados ao objeto.
Quando falo litúrgico, veja a disposição dos objetos em determinados lugares onde eles são oferecidos. O ambiente, ou o que chamamos de ambientação. Tudo está disposto a gerar uma sensação e fazer uma leitura evocando o valor sagrado do bem.
Diante do que já argumentamos até aqui, não é difícil deduzir que este culto ao objeto é o poder simbólico que lhe é conferido. Logo, os seres humanos que têm este objeto passam a buscar transferi-lo para sim diante da posse. Ter o objeto e ter o poder que dele emana.
Por isso, voltando a frase que começou esta conversa, as pessoas buscam ter para ser. E, de forma extrema, as pessoas são a condição humana que o objeto ao qual elas estão associadas possui.
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