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Quer conhecer o Brasil? A hora é agora.

Pixabay

No ofício de cientista social, professor da área de humanas e historiador de formação, sempre li sobre as crises, a importância que fatos que abalam a sociedade tem para a mudança significativa de uma estrutura econômica ou política. Há as mais intensas que alteram a ordem social. Isto faz parte dos objetos de estudo que muitos vão se debruçar para compreender melhor com a passagem do tempo. 

Estamos vivendo no país um destes momentos. A pandemia é mundial, há inúmeros fatos que dentro do ambiente crítico irão despertar o interesse de pesquisadores. Porém, o Brasil tem fatos que devem merecer atenção redobrada no futuro. Estamos em um momento de associação de problemas com a pandemia. Está nu o país com a fragilidade social, econômica e política. 

Ler os fatos quando eles ainda estão em andamento é um risco. Nos perdemos em uma análise aparente que acaba por engolir os argumentos duradouros. É muito difícil querer definir a dimensão dos acontecimentos quando eles ainda estão em curso. Há muito o que acontecer. Mas eu considero fundamental algumas reflexões.

A primeira análise, talvez a mais certeira diante das dúvidas, é sobre a sociedade brasileira. O quanto ela está transparente em sua relação. Há uma diversidade de condições da população, uma realidade assustadora. Extremos de acesso às necessidades e atendimentos estruturais básicos. Não precisa ser um gênio para se perceber o perfil geográfico e social das principais vítimas da Covid-19.

A própria falta de estrutura de saúde já denuncia as escolhas cruéis de quem deve viver ou morrer caso precisem de atendimento. Uma população que está sujeita a doenças crônicas e sem condição de tratamento adequado. Os que são pouco assistidos e vivem ao sabor da sorte e da má associação de costumes, os chamados “hábitos ruins”. A população que tem uma alimentação inadequada, faz pouco exercício e tem uma obesidade mórbida.

Por outro lado, a falta de atendimento médico em algumas regiões é nítida. No quotidiano, antes da pandemia, era claro que não existia estrutura hospitalar para atender a maioria da população. Quantas reportagens já tinham sido feitas mostrando a precariedade de hospitais e postos de atendimento públicos. Isto nunca foi novidade. 

Outro dado fundamental é a quantidade de brasileiros “esquecidos” ou fora dos registros oficiais. Mais de 11,7 milhões não faziam parte do cadastro geral do governo. Milhares não tinham identidade e CPF. São os que existem e não existem. Os brasileiros que vivem na informalidade. Morrem sem fazer parte dos números oficiais. 

Logo, não podemos descartar a quantidade de pessoas que adquiriram a doença, foram contaminadas e não fazem parte das estatísticas oficiais. Vários levantamentos feitos por instituições de ensino respeitadas demonstram casos de subnotificação. O país desconhece o país. Estamos descobrindo de forma dura que estamos mais divididos do que nunca.

Falando em divisão é importante entender o quanto o ambiente político denuncia a fragmentação, radicalismos e enganos. Um país desgovernado. O jogo da sinceridade, a busca de combater a corrupção e de romper com a velha política naufraga. Hoje se coloca o debate da mentira na boca de dois mitos da transparência. Se já vivíamos radicalismos, agora mais do que nunca estamos fragmentados em extremos. Como combater uma doença com um país sem diálogo? 

Meu caro, o Brasil está nu. Não há novidade no que estamos vivendo. 

O que vamos fazer? Aí cabe a cada um agir e reagir da forma que considera melhor. Fingir que não vê ou buscar dentro de seu espaço reconstruir a nação sem maquiar a situação. Tem que ter coragem e capacidade de compreender o ambiente formado por cegos e insanos. É a crise. Estamos no meio dela e esperando que um dia ela vire objeto de estudo da história.

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