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Existe uma busca silenciosa, quase patológica, na nossa sociedade: a busca pelo ser humano perfeito. E, infelizmente, essa quimera tem se transformado em um fardo pesado, especialmente nas nossas relações de trabalho. Os números recentes no Brasil são um grito de alarme que não podemos mais ignorar.
Os dados do INSS mostram o quão alto é o custo da pressão: o país registrou um recorde de 472 mil pedidos de licença por problemas mentais, um aumento de impressionantes 67% em relação ao ano anterior. Por trás dessa estatística fria, estão profissionais—muitas vezes mulheres, na faixa dos 40 anos—que foram levadas ao limite.
O que as leva a essa exaustão? Em grande parte, é a pressão por resultados inatingíveis.
Não se trata de rejeitar a ambição ou metas importantes, pois viver sem propósito é vazio. O problema começa quando as empresas e lideranças inserem no dia a dia uma cobrança por algo que é, essencialmente, uma ficção. Frequentemente, as metas são estabelecidas por quem jamais conseguiria cumpri-las. Essa ideia constante de que a perfeição é a única opção se transforma rapidamente em um fator de risco para a saúde mental.
Aqui reside a maior miopia do mercado: a pressão excessiva, aquela que desumaniza o profissional, não só leva ao afastamento por doença, mas também causa a perda irreparável de bons profissionais.
Quando um ambiente de trabalho exige que um ser humano opere como uma máquina—sem falhas, sem cansaço, sem espaço para o erro e o aprendizado—ele está, na prática, dispensando a criatividade, a paixão e a lealdade. Profissionais talentosos, capazes de entregar resultados notáveis, são os primeiros a perceber que seu valor está sendo medido por uma régua irreal. Eles simplesmente se cansam de serem comparados a um ideal inalcançável.
Um bom profissional que se sente constantemente pressionado a ser um “super-humano” acaba frustrado. E, em um mercado aquecido, ele fará a escolha óbvia: sair. A organização perde o investimento, o conhecimento e, o mais grave, a possibilidade de crescimento que aquele talento trazia. A rotatividade de pessoal e o aumento de custos com desligamentos são apenas a ponta do iceberg desse prejuízo.
É urgente que as empresas reconheçam a condição humana de seus colaboradores. Somos seres falíveis, adaptáveis e capazes de crescimento. Pressionar por perfeição é comparar uma pessoa com uma idealização—e essa idealização, chamada na filosofia de transcendência, pode nos guiar, mas nunca deve ser cobrada como uma realidade diária.
O caminho para reverter esse quadro passa por uma liderança mais sensível e inteligente, que entende que o desempenho sustentável vem do respeito e do bem-estar, e não da coação. Precisamos trocar a exigência exaustiva por um ambiente que valorize o esforço, o aprendizado com o erro e o descanso.
Afinal, a maior perfeição que podemos alcançar em uma relação de trabalho é ter profissionais talentosos, engajados e, acima de tudo, saudáveis. E isso, definitivamente, só se conquista com humanidade.