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Weber, pensador alemão do final do Século XIX e início do Século XX, que morreu de gripe espanhola em 1920, argumenta a diferença entre o cientista e o político. Isto nunca ficou tão claro como agora. Enquanto a política está entregue ao sabor da hora. Buscando capitalizar através de ações o prestígio, a ciência desfralda a dimensão do problema que temos que resolver. Na habilidade ou não de administrar a coisa pública diante da crise, se destaca os que têm a racionalidade científica como argumento mais importante. Futuro ou presente se transformaram em opção de forma simplificada.
Na inabilidade da figura pública em falar de ciência, é o cientista que define o imperativo da racionalidade lógica que não esteja perturbada pelo poder. A continuidade do que somos depende mais da permanência do essencial, o ser humano. Mas uma sociedade humana não é feita de igualdade. Não somos iguais. A vida tem diferenças que podem comprometer o futuro. Então o que é prioritário? Que futuro desejamos?
Simplificando a discussão, o nosso principal problema é o que temos que preservar? Quem são os necessários e os que são dispensáveis. A nossa desigualdade cruel é assassina na hora da escolha de quem deve viver ou morrer. Tem vidas que valem mais do que outras? Esta é uma pergunta que as condições que estamos vivendo agora podem responder dependendo do caminho que seguirmos.
Um objeto define esta discussão, respirados. Outra condição define o caminho do necessário e dispensável, a terceira idade. Pessoas com problemas crônicos, comorbidades, entram neste cálculo. Por fim, o que ninguém tem comentado, a renda. A que classe econômica pertencem a maioria dos mortos? Um respirador vai responder.
Trump tem demonstrado um pouco essa lógica bloqueando a entrega de máscaras e interceptando respiradores que iriam para outros países, ele quer defender “seu povo”. Nem que para isso torne as condições de outras nações uma calamidade. O homem público não é o cientista. O poder faz uso da ciência e não é capaz de se dobrar a ela em suas decisões. Não é o conhecimento científico que sustenta a lógica do poder. Mas seu uso para um determinado de interesse de quem detém o controle sobre o Estado, a governabilidade.
O canalha sempre tira proveito na hora da morte. O que estamos assistindo interna e externamente no país, em vários cargos de liderança, mundiais, nacionais, locais, é a personificação do homem público e a manipulação da ciência. O conhecimento nos mostra um caminho, mas o guia que nos governa destoa ao considerar que suas medidas servem de referência. Neste país sempre se rejeitou o conhecimento em prol da profecia e do profeta. O preço sempre foi caro, nosso atraso e a soma dos mortos.
Falta para homem público ciência? Mais que isso, consciência. A capacidade de entender que a verdade não está na retórica ou na personificação da confiança, mas na atitude certa, racionalmente calculada em prol da maioria. Por isso, nestas horas, é melhor confiar no cientista.
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