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Cidades planejadas. Quantas se orgulham de ser assim? Outras tantas gostaria de planejar. Se fala do planejamento como a solução. Pode ser. Em alguns casos é. Mas, lembre-se: o que se impõe pelo planejamento pode se tornar um tormento.
Cidades planejadas podem custar a criatividade de quem vive nela. Regras de mais cansam, controle de mais revoltam e transparência demais nos tira o direito de entender as diferenças. Não por acaso, lugares que desejam padrões são intoleráveis diante da diversidade.
Hoje, idolatramos o controle. Consideramos o planejamento dos espaços como uma saída segura. Será? Eu temo a ilusão dos que se deixam levar pela ideia do comportamento ideal e se esquecem do que é real.
Não existe na condição social humana o padrão esperado. Sociedades onde tudo pode se antecipar. É como um ser em uma sala de espelhos diante da condição tediosa de viver consigo mesmo sem ter um outro que pela diferença nos dá a dimensão do que somos. Não há uma medida perfeita para todas as coisas.
Perceba, os que desejam tanto a vida planejada em um ambiente tido como “perfeito” querem encobrir com suas defesas da ordem os males que alimentam em suas intenções. Como aqueles que condenam as civilizações que tem por prática a nudez porque ao se depararem com o corpo exposto alimentam o desejo pecaminoso que não conseguem controlar.
A regra imposta é defendida quase sempre por aquele que é um dos primeiros a descumpri-la. O mal resolvido sempre quer a proibição para não ter que lidar com seus desejos que quase sempre o traem e tomam conta dos seus delírios mais íntimos. Observe que os ambientes considerados profanos, os corpos prostituídos, tem em seus maiores clientes o perfil do moralismo radical.
Não queira fazer do planejamento uma constante. Aprenda a dar limites a busca do perfeito. Entenda que melhorar, amadurecer é conviver com a diversidade. O saber o que se quer e organizar as ações é fruto da experiência e da capacidade de assimilar a complexidade e não só tolerar a igualdade.
Não será em um lugar padrão, cheio de iguais, onde se descobre a importância de nossas diferenças e aprender algo com quem nos é estranho. Somente crianças vivem na infantilidade do ato por não saber a complexidade da convivência. Querer um mundo organizado e sob controle é ser frágil na infantilidade apesar da maturidade que deveria ter tido com o passar do tempo.
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