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Falta coragem de um ser-humano, que só pode emergir em meio à multidão.
“Se uma andorinha só não faz verão”, como afirma Aristóteles, ao querer questionar os sinais que apresentam o acontecimento, uma multidão pode fazer. No caso da massa desordenada, ou aparentemente organizada, permite excessos de indivíduos insignificantes. Aqueles que no cotidiano não seria percebido.
O indivíduo ganha coragem ou falta de juízo quando se percebe com a força de uma multidão ao seu lado e tudo pode fazer. Há uma fraqueza de valores morais, de respeito, de civilidade, quando a multidão reforça o desejo de praticar o abuso.
Quando se fala do efeito manada, onde a multidão empurra todos para o mesmo movimento, está se falando do que assistimos ao longo do tempo as depredações, enfrentamentos, e, em muitos casos, vandalismo praticado por muitos, juntos, ao mesmo tempo.
Vocês se lembram, a pouco mais de dez anos, em 2013, uma multidão avançou pelas ruas, fazendo uma avalanche de movimentos de protesto que se tornaram em quebra-quebra e levou a morte de pessoas envolvidas ou não com os levantes.
Pessoas invadiram lojas, saquearam mercados, quebraram bancos, destruíram patrimônios públicos e privados. Muitos dos que invadiram lojas o fizeram indo contra suas pregações diárias de civilidade. Muitos dos que economicamente não precisavam praticaram roubos, tomaram para si o que não lhes pertencia.
Se formos para janeiro deste ano, quando as sedes dos três poderes foram invadidas em Brasília onde uma multidão praticou vandalismo, destruiu o patrimônio público, pessoas tidas como “seres-humanos” do bem expressaram seu mal.
Podemos considerar inúmeras formas de analisar o momento em que a multidão pratica atos de vandalismo e violência. Massa humana formada por pessoas que em suas vidas normais não estão associadas a atos de violência. Nestas horas, temos que nos perguntar se o ser que pratica a barbárie em massa expressa nela o que é ou não.
Contudo, o ser humano em sua originalidade animalesca é o ser agressivo, que usa da oportunidade para se autorizar e praticar o excesso. Se está só, vigiado, não fará a mesma coisa. Jamais ousará enfrentar a repressão que é certa, recua por medo. Em meio à multidão o medo desaparece.
O valor civilizatório, de respeito ao outro, de garantir o bem-estar comum, de se comportar como o esperado pelos princípios morais não se dá quando não teremos que nos explicar pelo excesso que praticamos.
Estou falando que o abusado abusa quando está em meio aos outros que despertam está prática. A massa age enfurecida e desordenada e são a soma de indivíduos que alto se estimulam.
Na atualidade, a multiplicação de câmeras de vigilância, os olhos que se lançam sobre os seres humanos denunciando que a punição cairá sobre eles se fazem algo errado, funciona.
Se confunde a ética com a estética. Grande parte das pessoas se comporta para atender ao que se espera do ambiente, mas se puderem sair dele, vão fazer.
Por isso, os crimes que se multiplicam e que são praticados por pessoas consideradas de boa índole já apontam para esta prática. Porque os neuróticos não têm aparência de enlouquecidos. Perceba, não vamos encontrar o agressor se denunciando pela aparência e comportamento. Ele sempre parecerá normal.
Lembre-se, os agressores estão entre nós. Quando se somam em um ato coletivo e que podem explodir seu ódio e seu rancor, o farão.
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