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Há quem acredite no ditado de que “a vida deve ser vivida um dia atrás do outro”. Há também quem ame a frase “Viva hoje como se fosse o último dia de sua vida!”. Este sentimento de alucinação pelo imediato é cada vez mais comum. Esta é a sociedade do “stand up”. Invente alguma coisa hoje e vamos ver no que vai dar.
Esta prática não é a valorização da vida como alguns anunciam de “boca cheia”. A raiz da lógica do viver o agora sem se preocupar com o depois é a busca do suicídio lento. Um tremendo desprezo a vida e ao seu significado. O descomprometimento com uma proposta para se viver e deixar como legado. Covardes quase sempre não querem compromisso, mesmo que seja consigo mesmo.
O endividamento dos brasileiros é um reflexo desde desprezo a vida, ao futuro. A falta de um compromisso. Aquilo que infelizmente se incentiva todos os dias em parte das propagandas alucinantes dos momentos inesquecíveis que acabam no esquecimento assim que foram vividos.
O engraçado que a mídia publicitária trabalha com termos como “experiência única”, “você não será o mesmo depois disso ou aquilo”, “isso ou aquilo vai mudar sua vida”, “feito para você”, enfim todas as formas de hipnose da fraqueza humana incapaz de construir algo seu e necessitada de uma receita que lhe dê significado existencial.
O endividamento dos brasileiros não deixa de ser, em parte, resultado desta lógica do aqui e agora. Quando falamos em controlar nossas finanças e buscar uma vida com mais resultados econômicos parece que tudo se resolve ao sentarmos e fazermos contas, colocar na ponta do papel. Mas o que precisamos mesmo anotar em uma folha é a nossa razão de viver e o sentido que a vida tem como primeiros passos para uma jornada de sucesso financeiro.
Mas por que amamos o imediatismo? Ele sempre nos remete a infantilidade de uma vida sem compromisso. Aquela lógica pouco complexa de que minha vontade deve ser mais elevada do que a minha responsabilidade. Só os adultos devem medir seus atos. As crianças não tem o compromisso com as consequências. Não por acaso a lógica da infantilidade predomina no mundo da publicidade pueril.
Ao consolidarmos um princípio para nossa vida, temos que medir todos os nossos atos dentro deste caminho. Cada atitude faz parte de uma sequência de causa e efeito. Logo, sei o que estou fazendo de certo ou errado na busca de meus interesses. Mas este princípio é do adulto e não criança adulterada. Hoje, a infantilidade é reduto da felicidade mercantilizada. A sensação de satisfação voltou a ser um princípio da infância, como afirmava Rousseau.
A realização instintiva encontra a felicidade em sua forma original, sem culpa. Assim, a ideia de que a selvageria do consumo se consequências é o encontro do ser humano com seu estado original da realização. Por que impedir que a “criança” realize seu sonho?
Tem muita gente que encara o mundo, a vida, como uma brincadeira. Cuidado, por trás da frase de que a “vida é simples” pode estar a simplificação infantil do que é sério nesta vida.
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