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Sempre é difícil delimitar o que devemos respeitar e o que consideramos uma ofensa. Isto é de cada um. Por isso, o limite de tolerância social deve ser extenso. A liberdade deve ser ampla para permitir as expressões com o mínimo de exceções. De preferência, nenhuma.
Mas vamos falar de coisas práticas. Uma estudante do curso de publicidade, de uma instituição de ensino superior de Maringá, foi orientada a não exibir publicamente um filme sobre uma peça publicitária cinematográfica com conteúdo lésbico. A história de duas garotas que se encontram em uma festa. Elas ficam juntas, fazem sexo e se apaixonam. Roteiro comum, sem grandes dramas. A realidade ficou por conta da orientação de suspender a exibição. A realidade é sempre mais interessante que o melodrama.
O título do trabalho é “LGBTQ+ no Cinema”. Para quem não conhece o que significa a sigla, Lésbicas, Gay, Bissexuais, Travestis e Queer. Este último termo é uma tendência das pesquisas nas ciências sociais sobre a diversidade além do gênero.
Fiquei curioso sobre o fato. Ainda mais porque considero que toda a forma de expressão deve ser respeitada. Se há algo que está cada vez mais a nossa volta, é a descoberta do comportamento sexual e suas múltiplas expressões e identificações. Lutar contra isso, é dar “murro em ponta de faca”. Mas como há inúmeras facas e punhos, cada um sabe o que faz com o que lhe pertence.
Bom, vamos voltar ao trabalho da aluna de publicidade. Que por sinal era um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ele foi exibido para a banca avaliadora na íntegra. Não fiz parte da avaliação. Se fizesse, daria os parabéns a aluna. Ficou bom. Teria apenas uma ressalva, como duas pessoas fazem sexo e só depois perguntam o nome uma da outra. Sempre achei que uma relação sexual fosse mais importante que um cumprimento. Mas isso não importa.
Contudo, a instituição em que a aluna está matriculada é privada. Tem estatuto e regra. Tem o poder de censura. Um direito também. A justificativa da instituição em nota é que no local onde o filme foi exibido publicamente, havia crianças. Bom, até o cinema coloca limite de idade. Temos que fazer uma escolha, ou expulsamos as crianças da instituição de ensino superior ou não exibimos o filme. Porque pai pode fazer denúncia e viralizar, virar manchete, como esta censura virou. Quem tem que tomar esta decisão é a instituição, e ela tomou.
Por isso, podem tomar seu partido. Qual é de sua preferência? Eu prefiro ficar com a liberdade. Tanto que fez o trabalho e quem orientou para não ser exibido. No demais, há quem sai lucrando e quem não sai. Poucos TCCs chegam tão longe e viraram manchete e comentário. Participei de dois fantásticos, mas ficaram no esquecimento.
Só por esta sacada fantástica, que acredito não foi pensada, o Trabalho de Conclusão de Curso merecia nota máxima. Menos pelo conteúdo e mais pela capacidade de causar efeito. Quanto a ação da instituição que administra muito mais que um TCC, não condeno, entendo, se fosse minha, agia do mesmo jeito. Afinal é uma instituição que vai além de um momento. Mas, o que me cabe é defender a liberdade e o direito do sim e do não.
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