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Quando se fala de acordos e negócios, pensamos sempre na esperteza do “homem branco”, o civilizado e inteligente, o sábio e senhor absoluto, fadado a vencer. Esquecemos os elementos que constituíram realmente nossa economia em sua formação.
Antropologia das Organizações: o poder indígena na formação dos empreendimentos no Brasil
Quantas vezes, discriminamos os nativos, os considera seres secundários no desenvolvimento econômico, e eles foram fundamentais para a consolidação da economia regional. Foram eles que garantiram a ocupação dos territórios e a promoção das guerras de defesa. Mesmo quando da invasão estrangeira, foram eles que estavam presentes para consolidar o interesse do invasor.
Sempre se considerando que o elemento indígena não é um agente econômico fundamental da formação brasileira. Na prática foi e tem esta condição. Aquilo que se formou não se percebe como uma identidade singular porque os elementos indígenas estão hoje apartados simbolicamente da vida social. Porém, eles estão presentes em muitos dos hábitos que temos e praticamos.
No princípio da formação da sociedade brasileira e nos primeiros contatos dos elementos formadores, aqui o indígena e o “colonizador” ocidental – portugueses, holandeses, franceses e espanhóis – se percebe a importância para a fixação das empresas colonizadoras em grande parte do território que viria a se formar a nação.
Sem eles não teria ocorrido a ocupação, sem suas guerras constantes com outras nações e as diferenças históricas que antecedem a ocupação lusitana. Quantas guerras travadas, quantas foram fundamentais para viabilizar o domínio e consolidar a posse. Quantos de nós respeita ou conhece esta condição?
As alianças feitas através de casamento entre elementos “brancos” com as filhas dos chefes tribais. Os acordos de troca, o escambo, permitindo a aquisição de um excedente fruto da produção dos indígenas, os tupis em especial. Povos que ocuparam a faixa litorânea e foram os primeiros a estabelecerem o contato com os navegadores, viajantes e empresas colonizadoras.
O casamento das filhas dos caciques com o elemento branco constitui a figura do genro, o intermediário das negociações. O elemento cultural da busca do enriquecimento do ocidental que articula com os interesses territoriais locais dos indígenas. As forças convergem por interesses comuns e geral a possibilidade do sucesso da ocupação.
Foi e é assim que os empreendimentos se consolidam, ganham eficiência, escala e ocupação territorial. Não se pode negar que a aliança entre indígenas e colonizadores através do casamento e das alianças de trocas possibilitou o domínio sobre um imenso território.
Muitas destas práticas ficaram marginais ao controle do governo português após o estabelecimento da colonização. Foram ilegais ou informais, sem negar sua eficiência. Quantos governos coloniais fizeram vistas grossas as práticas de casamento, alianças, trocas e ocupações com predomínio da cultura tupi.
Nas empresas que estabelecemos hoje, nos negócios que se desenvolvem no cotidiano de nossa vida, muitos deles expressam esta capacidade da informalidade, da diversidade de formas, muitas delas originais, no trato da economia. Estas práticas fogem a análises de especialistas e são relevantes para a manutenção da vida diária.
Precisamos ficar atentos a isso. A racionalidade que se estabelece na vida e os modelos prontos que utilizamos para analisar e observar o cotidiano, acaba por deixar passar, não perceber e ter um olhar inadequado para notar a importância deste legado cultural na nossa vida.
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