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Ironias da história brasileira, 85% da população do país vive em cidades. Em um país que tem uma das maiores extensões de terras cultiváveis do mundo. Por quê?
A resposta é longa, faz parte da formação social do país. Somos de origem agrária, mas a cidade passou a ser o centro de poder na primeira metade do Século XX.
A decadência dos senhores agrários e a implementação de uma produção agrícola mecanizada transferiu a autoridade dos senhores para a vida urbana. A empresa agrícola se transformou em uma fábrica.
A população brasileira que se concentrou no ambiente rural nos quatro primeiros séculos de formação, se concentrou nos últimos 70 anos na cidade. E o preço que se paga até hoje por isso é caro.
As periferias urbanas forma crescendo na medida em que as relações de produção no campo foram se alterando.
A primeira grande alteração aconteceu no processo de transição do trabalho escravo para o trabalho livre. O processo de imigração de trabalhadores europeus contribuiu para a substituição da mão de obra escrava. Neste contexto, as periferias urbanas iniciaram sua formação.
A segunda grande mudança está na mecanização da lavoura em meados do Século XX. Este foi o momento de maior deslocamento populacional visto na história do país. Não por acaso, cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro consolidaram sua liderança em riqueza e pobreza.
Não podemos esquecer também a formação de outros núcleos que expressaram esta alteração, Salvador e Porto Alegre.
A cidade expressa ainda hoje os contornos dos problemas gerados no ambiente rural. Um dos exemplos desta condição é a presença dos elementos pretos e pardos, predominantes na periferia urbana.
Hoje, no país, 8% da população brasileira vive em favelas, são 12 milhões de seres humanos vivendo em situação de risco.
É preciso agir, enxergar o ambiente urbano como o núcleo das decisões relevantes que tomamos na convivência social.
Não há poder central, governo federal, que possa fazer alterações que atinjam de forma eficiente as cidades brasileiras. As ações demorariam demasiadamente e seriam generalizadoras.
As cidades necessitam de respostas rápidas. O agente público municipal deve ser protagonista em planos de ação integradas com as comunidades periféricas e a sociedade civil organizada.
Cada município brasileiro tem peculiaridades, características próprias. E políticas públicas devem ser prioridades nas pautas dos gestores. Isso deve ser feito de maneira permanente, inteligente e integrada aos diversos elementos envolvidos na vida da população periférica urbana.
Se esquece no Brasil que as periferias urbanas tem um histórico que deve ser compreendido e dele derivado suas particularidades. A formação de uma coletividade ao longo do tempo traça elementos próprios.
O respeito a essa identidade é uma forma de valorização das populações periféricas. Uma maneira de consolidar a existência de uma população que está unida por sua própria construção. O respeito nasce de valorização da origem de pessoas e lugares.
O primeiro caminho para a mudança é reconhecer a existência das pessoas. Entender que a presença destas comunidades periféricas faz parte da história dos espaços urbanos e são ambientes com uma riqueza cultural que precisa ser conhecida, mapeada e respeitada.
A identidade das periferias está nos rituais cotidianos, no dia a dia, na formação da vida nos ambientes e pessoas em convivência constante. Nos lugares que se frequenta e os vínculos que se cria.
Consideramos que nosso padrão de vida urbana é o normal da vida nestas áreas periféricas. Isso não é verdade.
Consumimos uma imagem preconceituosa constituída ao longo do tempo. Não compreendemos como estes lugares se forma e se nutrem. Quem são as pessoas que vivem nos ambientes periféricos, quais são seus rituais.
Os problemas que colocam em risco a população periférica são muitos. Deste a falta de saneamento, água tratada, educação, logística de transporte, problemas de moradia e estrutura ambiental.
Se faz necessário criar um ambiente onde exista infraestrutura para a superação de carências básicas e supere a condição de risco.
Está na hora de conhecermos esta condição para gerarmos sua integração. Não é mudar a forma como a periferia constituiu sua vida e seus valores, não é destruir sua identidade. O que se precisa é integrá-los da maneira que são e o com o melhor do que eles têm.
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