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Lembrar do que se tem a fazer não é uma tarefa muito fácil. Em determinados momento da história humana podemos até dizer que “agenda” esteve ligada diretamente a própria formação da escrita. Antes do surgimento do registro escrito, povos utilizavam de elementos rústico de memória externa para poder se lembrar de atividades e mensagens a ser dadas. Comunicação entre diversos povos eram feitas com bastão com marcas na antiguidade para que o mensageiro se lembrasse de um determinado conteúdo.
Esta condição ocorreu na Europa, na pré-história, como na Austrália e China. Maneiras de se ter um registro comum que ordenasse operações necessárias de uma atividade específica. Nossa agenda do dia a dia. Porém, não foi a única forma. Os incas, civilização ameríndia, tinham os “quipos”, cordas amarradas com cores diferentes que tinham significados distintos para serem instrumento de auxílio à memória.
Claro que este é um processo distante ainda do que chamamos de escrita ideográfica. Aquela que se forma a partir do momento em que a comunicação ganha a simbologia dos códigos fonéticos. Um resultado da simbologia dos desenhos que antecederam a grafia como conhecemos hoje. Se pecarmos a escrita do mandarim é uma herança da ideografia nas línguas da atualidade.
Fundamental entendermos que a nossa forma de produção gráfica teve influência dos fenícios. Com suas atividades mercantis se tornaram os principais responsáveis por difundir na Europa um escrita fonética. Marcada pelos ideogramas que são as representações que as letras carregam e recheiam o nosso alfabeto.
Importante entender que a dinâmica de comunicação entre diversas civilizações exige a construção de um elemento gráfico que seja de fácil compreensão e apreensão como conteúdo. Uma dinamização da comunicação em toda a sua plenitude.
A complexidade e sua funcionalidade acaba por impor em algumas civilizações escritas distintas. As mais populares são menos complexas, é o caso da escrita demótica no Egito Antigo. Desenvolvido para a comunicação popular e nos rituais que envolviam todos na sociedade egípcia. Diferente da escrita hieroglífica que era utilizada pelo poder do Estado para registros oficiais. Já, a escrita hierática era direcionada aos cultos sacerdotais e relacionada a responsabilidade de registros nos templos.
A utilização do papiro como espaço de escrita ajudou a preservar uma grande parte dos documentos deixados pelos egípcios. Em 1822 foi Jean François Champollion quem iniciou o estudo destes documentos e decifrou a Pedra da Roseta, documento fundamental para a construção de uma lógica de leitura dos documentos egípcios. A egiptologia nasce desta ação do pesquisador francês.
O latim se transformou em língua oficial romana na proporção em que o poder territorial se expandiu sobre outras civilizações. Não se traduziu em uma língua popular. Grande parte da população dominada por Roma manteve-se no analfabetismo. A diversidade de povos dominados tinha suas línguas locais que foram preservadas e acabaram por usar elementos latinos na medida em que construíram um língua escrita. Contudo, isto não é regra. O castelhano foi fortemente influenciado pelo latim, já a língua germânica e anglo-saxônica não.
Dentro da estrutura do poder, a língua usada nas nos ambientes de dominação chegaram ao ao povo através dos chamados “Álbuns”. A forma como o governo tinha de anunciar as decisões tomadas pelo Senado para a população. Mas, não foi medida para democratizar a informação e sim para desmoralizar muitas vezes as contradições e conflitos das decisões senatoriais. César, que buscava a implantação do poder centralizado, no Século I, a.C., queria expor as falhas dos parlamentares e ter a população ao seu lado expondo as fraquezas dos senadores.
Com a morte de César, em 44 a.C, os Álbuns, transformados em “Atas” passaram a ter conteúdos diversos, não só as decisões do Senado. Casamentos, mortes, divórcios, espetáculos, incêndios, enfim, tudo o que envolvessem a sociedade era um conteúdo a ser passado a população. Aqui já se pode anotar um periódico nascendo dentro da relação do poder com a sociedade. A informação ganha geral está estabelecida com a sociedade na sua busca de compreender quem se é e o que nos interessa. O documento passa ser impresso de forma artesanal e divulgado para várias regiões dominadas por Roma. Não todas, mas um início de informação constante. Sem técnicas, apenas produzidas pelos interessados e reproduzidas por eles também.
“A comunicação será sempre uma expressão da influência que os outros exercem sobre nós. Quanto mais volumosa, mas intensa o contato e o sentido dos outros em nós”
A informação estabelecida entre o poder e a população garante um reconhecimento gradativo da autoridade. A notícia oficializada pelo Estado que está disponível a população e lhe garante a autoridade através da descrição e informação cotidiana. Esta forma de comunicação foi extinta somente com o desaparecimento do Império Romano, no Século V.
A decadência romana foi marcada pelas invasões bárbaras. A ruralização da população, além de um longo período de sua diminuição drástica, cerca de 500 anos. Mesmo os que dominavam a língua escrita foram reduzidos. Não se deu continuidade ao processo de alfabetização, o que em Roma, e já existia na Grécia Antiga, era prática habitual, se não para todos, mas para um grande parte da população livre e economicamente estável.
Na medievalidade, era dentro dos mosteiros que se abrigou toda a documentação escrita. Passando a ser vigiado e controlado seu conteúdo. Mesmo para os membros do clero, em sua formação dentro dos mosteiros, o acesso aos conteúdos das obras laicas eram visto com restrições. Apenas as obras que se afinavam com a doutrina católica acabaram sendo reproduzidas pelos copistas. Mesmo assim, com toda a demora que este trabalho exigia. A cópia de um Bíblia, por exemplo, demorava um ano. Não era um trabalho fácil. Exigia especialidade, dedicação focada e intensa.
Por isso, quando se fala em comunicação na Época Medieval, séculos V a XV, é a comunicação oral que impera. Com todas as suas limitações. O mundo da localidade, a vida das comunidades, tinham como temática as condições do que interessava ao grupo próximo, onde os olhos batiam no horizonte era o limite do que se informava ou se desejava saber.
Neste ambiente é que entra em ação os trovadores. Eles eram quem levavam a informação e conteúdos de um lugar para outro. A linguagem oral se estabelecia em formas de trova para que não se esquecesse do conteúdo. A rima era condição fundamental para que não se perdesse o conteúdo e se estabelecesse uma estrutura lógica ao texto.
Falar de feitos heróicos, dizer de notícias de lugares distantes, fazer críticas ao poder dos nobres ou do clero, contar histórias de amor e ou propagar lendas eram temáticas comuns. Muitos dos trovadores se tornaram portadores da “verdade”. O olhar sobre coisas do mundo transformava o trovador em alguém amado ou odiado pelo poder estabelecido. Muitos perseguidos e outros eram feitos porta vozes do poder.
Parte considerável dos feitos que foram registrados em documentos escritos foram produzidos pelos membros do clero. A relação com a Igreja Católica poderia fazer de um personagem inesquecível ou, caso o contrário, era deixado no anonimato perpétuo. Os feitos de muitos dos monarcas foram “descritos” com todos os exageros necessários de uma vida associada a vontade divina. Um dos exemplos foram as Crônicas Afonsinas. Escrita pelos membros da Igreja Católica nas terras que formaram o reino de Portugal. Celebravam as vitórias do rei Dom Afonso Henriques contra os mouros. A cruzada divina enaltece os feitos do monarca que conquistou o principado portucalense com a interferência divina nas batalhas. Uma propaganda do Estado registrada para poucos legitimando o poder temporal e secular, de clero e nobres, típicos da relação de poder estabelecida na Europa na medievalidade.
Como já falamos anteriormente, o que faz a comunicação mais intensa é a necessidade humana. O poder de transformação das relações sociais implica na alteração da forma de nos comunicarmos. A Europa passou a ver esta necessidade se ampliar com o fim das guerras, pestes e fome. A estabilidade da produção agrícola se associou ao crescimento populacional. As atividades se multiplicaram para atender a demanda social.
O comércio entre as comunidades próximas e depois para as que estavam em longas distâncias se amplia. A cidade, o chamado “burgo”, concentra um número maior de pessoas. Mais que um ponto de encontro de caravanas, passa a ser morada fixa para o atendimento das atividades que agora veem um mundo além do horizonte. A necessidade pelo saber literário, a produção de um conhecimento laico, o registro das questões sociais mais amplas se multiplica.
O latim não conseguiria se manter como língua oficial. As diversa línguas locais ganham força e intensidade. Se traduzem como língua escrita, mesmo não reconhecida pelas autoridades eclesiásticas. A missa continuava em latim assim como os livros sacros.
Um sinal das mudanças foi a formação e proliferação das universidades. O ensino superior que temos hoje foi organizado e retomado aos moldes das instituições antigas. Para poucos, mas não só para os membros do clero. Por mais que parte considerável delas nasceram sob a sombra da Igreja Católica. Seus mestres mais ilustres eram formados dentro dos mosteiros ou nos colégios católicos.
Algumas das mais antigas foram Salermo, Bolonha, Oxford, Paris e Salamanca. Nascidas em núcleos urbanos onde acompanharam o desenvolvimento dos atividades mercantis e ao mesmo tempo foram elementos fundamentais na circulação de informações. A produção da intelectualidade acadêmica ficaria mais próxima das comunidades. A produção literária cresceu e se “profanou” trabalhando temas que questionavam a autoridade católica. Não por acaso, os movimentos de crítica ao domínio de determinados clérigos e nobres pontualmente e da autoridade geral da Igreja cresceram.
A procura por obras escritas não era mais só uma busca da Igreja Católica. Muitos desejavam o acesso a obras literárias. Buscavam o acesso ao conteúdo e, por consequência, a reflexão sobre a realidade. A discórdia alimentaria os meios de comunicação. Os tempos do humanismo e racionalismo tenderiam a crescer. O Renascimento se constituiria deste ambiente. A Reforma protestante viria a seguir. Guttenberg e a imprensa de tipo alimentaria estes embates.
A imprensa de tipo e o contexto da grande mudança na comunicação…
A xilografia já era uma prática medieval. Esculpir em madeira imagens sacras, pequenos textos e símbolos de fé. Porém, o trabalho era árduo, necessitava de um artesão mais do que um apaixonado pelas letras e comunicação. Impossibilitava a produção de páginas inteiras com textos devido aos erros que poderiam ser cometidos e não teriam como ser corrigidos. Xilografia e esculpir em madeira uma imagem e depois, molhada de tinta, imprimi-la em tecidos ou papel.
Se fossem feitos pequenas peças de madeira, os tipos. A montagem dos textos seriam possíveis dentro de um espaço onde os tipos poderiam ser montados com mais facilidade na reprodução de textos. O resto, é Gutenberg e a imprensa de tipo. A revolução da comunicação em meio a Renascença. Já se está no Século XV, encerrando a medievalidade, iniciando o período moderno e mudando a história da humanidade expressa nas páginas escritas da comunicação.
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