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Comunicação e consumo: o descarte da informação.

Estamos vivendo a sociedade do descarte. Tudo tem um prazo de validade. Tanto produtos, serviços e pessoas parecem ser facilmente descartadas. O volume do que se oferece é na proporção do descontentamento com o que temos. Nunca estamos satisfeitos, sempre queremos algo melhor. 

No mesmo momento que adquirimos algo tão desejado, o descarte deste mesmo algo já começa o rodear nossa mente em algumas semanas ou meses. Sempre estaremos olhando para uma novidade que nos encanta e nos preenche o vazio da existência. Temos agora algo pelo que lugar, o novo objeto de desejo que se coloca à nossa frente. Eternamente insatisfeitos, sonhamos com a fidelidade sendo intensamente infiéis. 

A comunicação ficou mais ágil e intensa. Ela tem uma cumplicidade com este descontentamento generalizado que toma conta dos seres humanos na vida contemporânea. Foi a agilidade na relação entre a informação recebida e transmitida, a eficiência dos meios e plataformas de comunicação, que criou este emaranhado de desejos que nos cercam e nos seduzem com inteligência. 

Não se pode negar que a publicidade tem medidas de interesse e satisfação que cada vez mais mapeia nossa mente e “coração”. Parece até que adivinha meus pensamentos, sabem dos meus desejos mais íntimos. Por mais que nos esquecemos que denunciamos todos os dias em nossos ambientes na internet, em nossas conversas com “amigos” nas páginas sociais, o que tanto queremos. Somos uma presa fácil. Claro que facilitamos a vida do caçador.

Alimentando um egoísta

Esta relação pessoal com os objetos de desejo e serviços que nos atendem cria uma barreira de tolerância em relação às outras pessoas. isto é nítido. Ficamos voltados aos nossos próprios interesses e retrocedemos como crianças mimadas a convivência com os outros e a tolerância de dividir vontades e coisas. Não suportamos a ideia de estarmos em uma coletividade onde devemos esperar a vez do outro. Somos sempre a prioridade em tudo. Nosso problema é mais relevante e merece toda a atenção. 

Este relacionamento particularizado e egoísta dificulta a aceitação da convivência constante com aqueles que estão à nossa volta. Na comunicação, os dispositivos de comunicação apresentam um texto e linguagem que aprenderam a falar no singular questões que são plurais. Mensagens e interesses que deveriam estar voltados a todos agora tendem a se concentrar no olhar e julgamento individual.

Neste universo de um ser só e por muitas vezes solitário, se rendem todos a aceitar que não se pode ir muito além do que oferecido. Uma abordagem de conteúdo que se coloque como um convite a ir além do ser em si é uma condenação ao desprezo. No controle dos seus meios de informação e na conduta do que lhe é interessante, o indivíduo cada vez mais exige ser atendido, sob a ameaça virar as costas e se desligar de toda a comunicação que não o considere o “centro do universo”.

 Porém, por que empoderar um ser só? Este ser que tudo deseja acabou multiplicando sua capacidade de consumo. Fortalecendo seus interesses pela percepção de que tudo o que existe tem um diálogo pessoal. Como a criança que cresce mimada e cercada pelas atenções alheias. Seu insuportável egocentrismo se estende pela fase adulta e é alimentado constantemente pelos ambiente que o potencializa como consumidor.

As empresas globais se dedicaram para poder transformar a cadeia de produção complexa em uma relação simplificada entre as pessoas e seus objetos de desejo. A aproximação é uma constante sedutora. Para isso é necessário uma publicidade e uma inteligência comunicativa que rompa barreiras e facilite a relação. Da forma mais instintiva possível. Por isso, e não por acaso, ser demorado na resposta e esperar uma decisão é correr o menor risco de ganhar um não. 

Na década de 1990 há uma aproximação da ambientação e o consumo como perspectiva. A questão do cenário se torna relevante na relação entre as pessoas, objetos e bens de serviço ofertados no mercado. Como já falamos anteriormente, a sensação se coloca como parte da aquisição. Não importa somente o produto, há que se ter uma emotividade e afetividade no encontro com o que se deseja adquirir. 

Na retórica das propagandas, os produtos que eram apresentados tendo como a sustentação do texto publicitário a sua função objetiva, se carrega de sensações e se associa aos desejo de infância que não se resolveram na fase adulta. Podemos gerar a permanência de certas lógicas que deveriam ter sido abandonadas ao longo do tempo. Mas agora, o que antes já foi considerado uma irresponsabilidade, uma infantilidade, agora é visto como um direito de sentir e viver independente da idade.

 

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