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Estamos assistindo o fim do uso do cheque como pagamento? Acredito que sim, ele será cada vez mais raro e um dia nem será lembrado. Por sinal, muitas pessoas acabam esquecendo na gaveta o talão e quando vão usar, alguns nem lembram a assinatura cadastrada no banco. Não por acaso, o número de devoluções pelo código ou linha 22 é cada vez mais comum, a incompatibilidade de assinatura. Para se ter uma ideia, dos 436 milhões de cheques emitidos em 2019, 2,464 milhões foram devolvidos pelo erro na assinatura.
Novas formas de pagamento acabaram por ganhar espaço e eficiência que o cheque antes ocupava. A velocidade de transferência e segurança da relação financeira são mais seguras com cartões de crédito, débito ou transferência bancária. Muitos estabelecimentos já avisam os clientes com uma placa informativa colocada em um local visível: “não aceitamos cheques”. Algo que já foi sinal de prestígio hoje vive preconceito.
Agora, há uma nova forma de pagamento que pode ganhar espaço no mercado, o PIX. A transferência bancária pode ser feita com o QR Code, tendo apenas o CPF, e-mail ou CNPJ. A operação é prática por não precisar ter dados de transferência e custo operacional, como o caso dos chamados TED.
Mas há um alerta importante com a morte do cheque. Hoje temos uma dificuldade maior de controle da vida financeira por causa da perda da sensação lógica e lúdica do pagamento. Quando tínhamos que preencher a folha de cheque e anotar no canhoto do talão o quanto gastamos, bem ou mal aprendemos a controlar o saldo em conta corrente. A noção visual do pagamento ficava clara.
Na atualidade, o pagamento com o chamado “dinheiro de plástico” nos tira essa percepção. Ficamos mais relaxados e corremos riscos de descontrole. Perdemos as operações objetivas da aquisição.
Nas prateleiras de mercado fazemos nossas aquisições como se fossem uma colheita. Passamos recolhendo os produtos dispostos de forma organizada e com embalagens coloridas em um prazer inconsciente de tomar posse sem qualquer restrição. Mesmo no caixa, ao pagar, o leitor de código de barra e o cartão de crédito ou débito dão continuidade ao ritual sem a presença do dinheiro saindo concretamente de nossas mãos.
Muito do endividamento das famílias brasileiras advém desta falta de percepção de que o gasto fez desaparecer o valor expressa de forma objetiva no dinheiro. Nos números que se tem a cada compra em uma operação de subtração que nos dá o sentimento necessário de perda para manter o controle financeiro necessário. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) são 65% dos brasileiros endividados. O cartão de crédito é o principal vilão.
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