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A crise humana e o Existencialismo

Você pode ouvir também pelo PodCast – Gilson Aguiar.

Quando a razão nos trai.

A Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) não foi algo fácil de se administrar na mende dos europeus que consideravam que a razão científica seria orientadora da “civilidade” e da “paz eterna”.

Na prática, os europeus conheceram o lado sombrio de um ser-humano que apresentava o conhecimento como o cartão postal da cordialidade. Ainda hoje tem quem acredite que o bem-educado pela ciência e a racionalidade lógica não é capaz de cometer o pior dos “pecados”.

Não só na Primeira Guerra Mundial, como também, na Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) o ser humano mostrou-se cruel com os de sua própria espécie. Uma onde de violência que o colonialismo ocidental lançou sobre inúmeros povos e que durante as duas guerras sentiu do próprio veneno.

A perda de esperança na dignidade humana teve muitas formas de se expressar na primeira metade do Século XX. Muitos pensadores tentaram captar a decadência ou obscuridade da mente humana.

A busca de um comportamento previsível.

Se por um lado as teses de Ivan Pavlov (1849 a 1936) com seus cães que salivavam ao ver a comida e depois salivavam ao se associar ações e sons a alimentação. Nossos estímulos positivos ao que é o ambiente e sua gama de associações.

Pavlov foi o início de buscar entender a mente humana pela forma clássica, o behaviorismo que se impunha, através de uma psicologia positivista. A mecânica que atingia a análise da particularidade.

Porém, esta tendência de ver o ser humano como uma parte de uma engrenagem lógica viveu uma crise. Se os que eram considerados bons fizeram o mal. Se aquilo que estimulava aparentemente a civilidade foi o ambiente para a perversão e crueldade, onde está os fatores que faz entender o espetáculo de horrores que a humanidade promove?

Nossa mente pode nos trair?

Por isso, Sigmund Freud (1859 a 1939) foi a expressão máxima daqueles que buscavam desvendar a mente humana. Há um inconsciente e ele é capaz de se manifestar em atos, mais que isso, nas representações simbólicas dos sonhos e da sexualidade nada aos seres humanos.

Uma infância pode ser o tempo não da ingenuidade, mas do registro da mente dos recalques que se manifestam mais tarde em atitudes de violência, submissão, revolta, negação, transferência etc. As inúmeras palavras que nasceram da compreensão das tramas que um ser-humano pode ter em sua mente.

Por isso, o inconsciente tem papel central nas teses freudianas. Ao mesmo tempo que estes elementos não são observáveis a olho nu, eles estão presentes e se expressam nas ações. Desta forma, há uma elaboração de uma ciência interpretativa e simbólica dos sonhos, segundo os médico e psicanalista austríaco.

Nas principais obras de Freud, “A interpretação dos sonhos” e “Psicologia da vida cotidiana”, enquanto na primeira se percebe a cadeia de valores reprimidos e as interpretações simbólicas que os sonhos demonstram, na segunda já há uma percepção do papel da sexualidade na vida humana.

O ser humano tem então seres contraditórios que lhe habitam a mente. Ele não é ciente de sua verdadeira intenção. Logo, é parcialmente consciente de seus atos e age em um campo restrito em um labirinto criado pelos dois lados de sua mente, o consciente e o inconsciente.

Ironicamente, o existencialismo que foi cunhado no mesmo molde da busca de conhecer o ser, fará o caminho oposto negando a inconsciência e jogando a responsabilidade sobre a escolha de um ser humano condenado a liberdade.

O existencialismo é um humanismo?

Existir não é uma tarefa fácil. Viver em si demanda saber separar o quanto há de nós na vida e o quanto a vida dos outros nos interessa. Sim, isso mesmo. Onde estamos na vida? Até que ponto ela é fruto de nossa vontade? Até onde a vida é abstração alheia e condição externa a nós, daquelas que não dominamos.

Ser humano é potência.

Um dos expoentes do existencialismo, o dramaturgo e filósofo francês, Gabriel Marcel, considera que há a potência nossa no mundo externo e desse sobre nós assim como há a potencial interior, o que somos para nós mesmos. Aquela coisa incrível de ser satisfeito consigo mesmo, o que uma grande maioria das pessoas não são.

Se potência é a capacidade de realização, se podemos fora de nós e dentro de nós, o que fazemos com ela. Para Marcel o pensamento tem papel chave. O olhar sobre o mundo pode ser um diferencial importante na compreensão da nossa existência. O que vale lembrar, não se relaciona diretamente com a realidade.

Nem tudo é o que parece.

Realidade aqui é outra coisa. Aquilo que olhamos e consideramos como real pode ser uma expressão, uma interpretação, uma perspectiva. Para isso é preciso recorrer a Karl Jasper, o psicanalista alemão. Para ele, há uma dialética entre a realidade objetiva, o que as coisas são no mundo da racionalidade científica e o que o “Eu” considera de si mesmo.

O que somos, para Jasper, é o encontro entre estes dois elementos. Uma dialética da vida como é e do ser como se vê. Desta condição nasce o terceiro elemento para ele, a existência em sua condição máxima.

Vale lembrar que para Karl Jasper a existência é a condição da liberdade como fator nato a vida. Neste sentido ele se orienta na postura de Kierkegaard argumentando sobre o ser-humano à beira do precipício, podemos ser empurrados ou podemos pular. A vida tem a contingência das duas possibilidades, uma é o que não planejamos e a outra é fruto de nossa vontade.

Logo, tanto para Jasper como para Kierkegaard, a vida pode ser encerrada em um ato de vontade humana. Existir é então uma constante liberdade entre estar e não estar no estado em que se encontra. Neste sentido, o ser nada é algo positivo. É possível fazer da própria existência alguma coisa.

Liberdade “é” e ponto-final.

Para Jean-Paul Sartre esta liberdade vai ao extremo. Estamos condenados a liberdade e a escolha. Seja na condição de maior aviltamento que um ser-humano se encontre. Por mais que não se tenha saída, e que romper com o sofrimento é tirar a própria vida, há a escolha. E para Sartre, como para nem um outro existencialista, não podemos passar a responsabilidade da escolha a outro, até mesmo à um Deus.

Da mesma forma não há um presente. Há um passado que se faz e um futuro que se destrói, se desfaz. A cada momento isto está sendo realizado. Não há um intervalo entre o que foi e o que virá.

Estamos jogados no caminho sem volta do fim. Não há tempo de escolha, e sim escolhas que são feitas. Não se pode considerar o caminho da vida marcado por placas que nos apontam caminhos diferentes. Há um caminho que está sendo traçado e ele é nosso, nos faz.

 

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