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A “antropologia” da igualdade

Há mais de três milhões de anos a espécie humana iniciava sua jornada. Nas estepes africanas a vida nômade de caçador e coletor buscava a sobrevivência num constante deslocamento. O tempo de viver em bando tinha também sua individualidade. A família extensa era o grupo, em sua proporção. Não havia a unidade familiar que temos. Todos cuidam de todos, mas cada um tem a responsabilidade por si. Contraditório, mas não difícil de entender.

A manutenção da espécie tem na busca de local seguro e de abundância de alimento o sentido do dia a dia. O deslocamento é a condição vital de sobrevivência. Não há tempo de lamentar o que fica. Se prender a alguém é correr o risco de fragilizar a própria vida. Todo o vínculo criado e que gere dependência pode fragiliza e sobrecarrega a particularidade necessária da vida nômade.

O sedentarismo acaba por mudar a organização da vida. O cotidiano agora é em um determinado lugar. A casa, a família, o território e a submissão da mulher são característica deste mundo. Aprendemos a se apegar ao patrimônio, a terra, o gado, a plantação, e deixa-la para o herdeiro. Se faz necessário controlar o corpo da mulher para garantir a hereditariedade legítima. A castidade e a fidelidade se torna uma obrigação.

Nos últimos 250 anos iniciamos uma mudança. A ruptura da família patriarcal e monogâmica. E a mulher é “jogada” no mercado de trabalho. Ela precisava sobreviver. Na manutenção da família tradicional ela não reproduzia mais o ambiente doméstico como destino. A sociedade industrial recrutou o elemento principal da manutenção do domínio patriarcal para as fileiras do operariado.

A emancipação gera conflitos. A resistência moral. A revisão dos valores não acompanha o movimento dos fatos. Entrar no mercado de trabalho não veio acompanhada do respeito. Elas são depreciadas por serem trabalhadoras, desrespeitadas. Ao chegar em casa, elas devem cumprir a tarefa doméstica. Cumprir o destino moral incompatível com a condição objetiva da vida do trabalho.

Contudo, as coisas estão mudando. Não haverá volta. Agora, elas devem assumir para si o papel de um protagonismo de voltar a serem “caçadoras” e “coletoras”. O mercado de trabalho passou a ser o novo campo de luta pela sobrevivência. Ser provedora já é a condição da maior parte das mulheres dentro da família. Cresce, também, a chefia da mulher como única provedora.

As novas gerações de homens e mulheres já devem encontrar um outro destino daquele que seus pais e avós encontraram. Não será mais o casamento o destino e a família patriarcal uma naturalidade. A escolha vai prevalecer sobre a imposição. A liberdade ficará acima da prisão moral. Ficar será por amor. Unidos para sempre será o resultado de uma relação bem-sucedida e não uma prisão conjugal.

Não vivemos mais com relações limitadas. Conhecemos outras pessoas. Vivemos rodeados de contatos e possibilidades. Ser fiel é um sentimento fortalecido pelo tempo e construído por escolha em meio a uma grande quantidade de oportunidades. Logo, o ser, para viver esta liberdade, deve ser maduro, responsável pelos seus atos. A experiência e a vivência podem ajudar a crescer, dar sabedoria, diante das escolhas. Um pré-requisito para estes tempos.

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