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Vírus chegou de avião e agora se arrasta pelo chão

Pixabay

Fica cada vez mais evidente o caminho que o novo coronavírus tomou. A chegada da doença no país, a propagação pelos estados e municípios acompanha quase sempre a mesma lógica. Os primeiros infectados tem uma renda mais elevada e se contaminam em eventos. A doença chegou ao Brasil de avião. Agora, ela se propaga no cotidiano das periferias urbanas e atinge em cheio a população mais carente. Aquelas onde o isolamento social é uma impossibilidade e se for feito, é fatal. Não há como se sustentar sem trabalhar no que der e for possível. 

O título deste texto pode parecer agressivo. Mas a doença também é em sua lógica de propagação. Ela denuncia as fraquezas e atinge o ponto vulnerável da história social, econômica, política e cultural do país. A doença se enfia pelas entranhas da circulação humana e toma de assalto os locais onde há uma fragilidade de defesa. Como no corpo, a resistência, os anticorpos, são mais vulneráveis onde a saúde já é debilitada.

Atingimos os 60 mil mortos e multiplicamos por dois em menos de um mês. A lógica é simples, onde é mais possível infectar o ser humano que propaga o mal pela própria convivência. Grande parte dos trabalhadores brasileiros são de baixa renda, desqualificados, expostos às condições de falta de saneamento e atendimento médico. O transporte coletivo é em muitos casos a única forma de deslocamento e expõe pessoas em um ambiente de contágio inevitável. Já no trabalho por levar a vida pelo fio da navalha, o home-office é um luxo.

Há dois países sendo anunciado nas medidas da pandemia. O Brasil viável dos protegidos e sustentados por uma estrutura em áreas de instrução onde a contaminação pode ser controlado. Nestes ambientes o nível de contágio é controlado e se ocorre é por abuso. Como a morte dos de melhor renda em acidentes de trânsito pelo excesso de alcoolismo ou velocidade. Os casos isolados de desrespeito às normas é uma prática pelo abuso marcado de excessos dos de melhor renda.

Existe um país onde a contaminação sobrecarrega a saúde pública porque a prevenção é medida cautelar de custo econômico alto para um grande parte da população. O contaminados das classes populares são os que se expõe pela impossibilidade dos cuidados e por desvalorizar a própria existência cotidianamente rodeada de riscos. 

Quando olhamos o momento impensado e novo que a Covid-19 nos trouxe e declaramos ser algo único. Na prática é a novidade desfilando no velho ambiente e penetrando nas rachaduras de uma sociedade que não pode mais colocar para baixo do tapete as suas próprias sujeiras.

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