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Uma vida em promoção

Domingo pela manhã fui ao mercado. Pouca gente circulando entre as gôndolas. Talvez, por isso, um homem não me passou despercebido com um carrinho com fraldas, leite em pó e uma cesta básica. Parava em cada cliente e pedia ajuda. Comigo não foi diferente, ele se aproximou e pediu para que eu pagasse a sua compra.

Tinha apenas R$ 5,00 no bolso. Falou que suas duas filhas gêmeas de um ano e meio, um filho de dez anos, a esposa e mais nada. Estava com a cara de quem era acompanhado pela fome com o toque do olhar de desespero. 

Se o constrangimento de pedir já era muito, o dele era a exposição a uma humilhação que ia mais além. Estava com o que precisava no carrinho do mercado, colheu nas prateleiras, mas não significava que sairia de lá com o que colheu. 

Diante de tantos “nãos” que tinha recebido até ali, resolvi ser o sim do dia. Porque, com certeza, teriam outros dias de risco e humilhação. Sei que não era a solução, apenas a possibilidade de se estender por mais um dia à espera de um milagre. 

O homem que se jogou no mercado, em liquidação, esperava que alguém desse o mínimo pela sua vida. Tinha perdido tudo na pandemia, me explicou depois. 

Fomos ao caixa, paguei a compra e ele se foi. Cada um seguiu seu rumo, já o destino é incerto, neste país, para muitos, cada vez mais.

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