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Somos afro

Hoje é o Dia da Consciência Negra. Se lembra Zumbi dos Palmares, sua morte a frente da maior rebelião quilombola da história do país, 1695, na então Capitania de Pernambuco, hoje parte do território de Alagoas. Mas dos quilombos nós conhecemos pouco e das manifestações africanas no Brasil e na própria África menos ainda.

A questão afro no Brasil é relevante. Tanto pela intensidade do significado que a presença do africano tem na formação do povo brasileiro como nas condições em que foi construída a sua existência nas terras portuguesas na América. Foram quase cinco milhões de africanos trazidos como escravos para os trópicos desde a colonização lusitana ao fim do tráfico negreiro em 1850.

Não há, nem de perto, território no continente que tenha recebido tamanho número de africanos. somos o país mais afro fora da África. Nossa formação como colônia portuguesa marcada pelo encontro entre nações tem em sua raiz fundadora indígenas, portugueses e africanos. 

Nosso colorido não nega nossa tendência, nossos temperos também não. Na construção do povo, na expressão do “mulato”, o mais original dos elementos brasileiros, derivado da mula, do cruzamento entre o asno macho e a égua fêmea, se identificação a miscigenação como princípio de formação. 

Talvez e por isso, o preconceito racial no Brasil tem seu formato intenso, doloroso e original. Na vida dos engenhos nos tempos da colonização portuguesa e da primeira fase do Império, o senhor de engenho é criado pela ama negra. Brinca com as crianças escravas e com seu meio irmão. Sem contudo deixar de exercer sua autoridade em meio às brincadeiras de criança. Por isso, o preconceito se “naturaliza” com a relação de convivência. 

Ainda estamos distantes de perceber e entender a história da escravidão pela ótica do escravo. Esta literatura está por se produzir. Ainda estamos distantes de entendermos que nossa africanidade existe por mais que não queiramos. Temos mais sede de contar e nos contaminarmos com nossa formação afro do que com as cotas que nos permitem compensar a desigualdade construída ao longo de séculos. A qual pouco conhecemos.

Hoje é o Dia da Consciência Negra. Diria que o dia de percebermos que somos mais negros do que apenas um dia pode nos fazer ver. E, quando todos os dias se impregnar um pouco mais de nossa africanidade já haverá passados muitos dias, meses e anos que o sentimento rejeição se transformou em lembrança de um olhar no espelho do miscigenado que se vê como um povo e não como a parte esquecida dele. 

Se temos que uma origem, a africana é a que se apresenta com percepção. Porém, sofre preconceito. É rejeitada como consciência oficial e coletiva. Na prática cotidiana acaba por ser marginalizada por mais que inegável. 

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