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Povo brasieliro não é pacifico

A gente vive tentando harmonizar o desarmônico. Esta mania de querer fazer do Brasil a pátria dos sossegados, do povo dócil e distorcer a cordialidade defendida por Sérgio Buarque de Holanda. O Brasil é um país em guerra permanente.

Esta conversa de que aqui não há conflito e que o país vive uma convivência pacífica não é coisa atual do extremismo que vivemos no ambiente de disputa eleitoral. Neste país já vivemos noites de partidarismo como a “Noite das Garrafadas”, episódio conhecido da história brasileira, onde o imperador Dom Pedro I, foi recepcionado por aliados no Rio de Janeiro e ao mesmo tempo sentiu a ira dos opositores.

O conflito entre as duas partes terminou com uma briga e garrafas voando para todo o lado. Logo, a impopularidade de uns não é novidade e o confronto com outros, os apoiadores, também não. O imperador abdicaria do trono naquele ano e o episódio foi uma demonstração da insustentável condição de tensão que o país viveu e ainda vive.

A guerra permanente nem sempre é contada com tanta ênfase nos livros didáticos ou é popular como registro de pesquisa, por mais que muitos estudam as “guerras urbanas”, o que o ensaísta alemão, Hans Magnus Enzensberger chama de “guerra civil permanente”. Jurandir Freire Costa, o cientista social brasileiro, chama de “medo social”. Quantos não vivem na “zona de confronto” e estão sempre preparados para serem atacados e se possível atacam primeiro.

Esta predisposição a agressão, a violência, ao excesso cometido, é o culto do abuso pelo abusado e abusador. Personagens que o Brasil tem recheado em sua história. O mandatário que se impõe e oprime, seja o homem público e sua cultura patrimonialista, de achar que o bem público lhe é a propriedade privada; seja pelo empresário desmedido que confunde a empresa com a extensão do seu quintal onde cria os animais domésticos e seu gado de abate chamado ironicamente de colaborador; seja pelo aparato de segurança formado por pobres batendo em miseráveis reproduzindo o capitão do mato mulato capturando e espancando escravos pretos.

Falar sobre este tema recai também na limitação dos que ignoram os bancos escolares e o conhecimento mínimo sobre ideias e ideologias. A defesa da cidadania e do direito a liberdade, o princípio da igualdade jurídica e o tratamento de respeito a população, princípios fundamentais do liberalismo, são vistos pela maioria como retórica da esquerda socialista. Mal sabem que um liberal conservador bem formado com qualidade intelectual concordaria com estas ideais.

Assim, o extremismo continua existindo. Percorre nosso cotidiano e fazemos parte dele. A preocupação acadêmica e culta da vida civilizada esbarra no cotidiano em que o ato de gestão da vida coletiva não tem projeto de mudança, apenas a permanência. A retórica da transformação do país na “nação do futuro” é data vencida. O futuro chegou e ainda continuamos esperando sem “sair do lugar” ou a passos lentos no que é mais importante para melhorar a condição de vida da maioria da população, construir o futuro melhor que tanto se fala e nunca chega.

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