Comentários
2 min
Quantos não o querem? O poder, o exercício do comando sobre um, uns, alguns, poucos ou muitos. Adoramos ter nas mãos o destino das pessoas e fazê-las sentir o quanto uma decisão nossa pode mudar suas vidas. O gozo aumenta quando podemos usar todo este sentimento para satisfazer nossos interesses, elevados ou não, nobres ou torpes.
Ver o outro se sujeitar, engolir seco, evitar o confronto para não se prejudicar. Já que na relação com aquele que detém o poder fica sempre claro, ou nas entrelinhas, quem manda e quais as consequências punitivas da desobediência. Medíocre é a realidade em que para colher migalhas distribuídas pelo suposto líder, chamaria aqui de mandatário, a dignidade de tantos se nivela ao chão.
Quanto tempo isso dura? Dias ou gerações? Importa pouco o quanto isto dure. A cada dia desta subordinação aviltante um ódio lento, um rancor imenso, um sentimento de angústia misturado com desejo de vingança cresce. A fidelidade existe a princípio e depois começa a dar lugar aos segredos ocultos e os pensamentos de ruptura com a escravidão instalada.
Um dia, o poder se desfaz, aos poucos ou em um só golpe, na porção acrescida do que construiu durante o tempo em que perdurou. Paga-se o preço. Funciona como uma barragem que represa a água, aparentemente tão dócil ela aceita o que lhe impede o caminho, mas se acumula.
Aos poucos ganha uma força maior que seu obstáculo. O rompe. Ao provocar rachaduras na muralha que se queria eterna vai se construindo o desmanche que fará descer ladeira abaixo o furor saindo do leito natural e invadindo as margens. Sobra até para quem não tem culpa e tinha crescido no espaço reservado ao outro, represado, que nem se conhecia. Não há coisa pior do que lidar com sentimentos represados. Provocam ações irracionais em sua fúria.
Porém…
Há o que vive da condução das coisas ao lugar comum. Orientando a vida de tantos para suprir as necessidades coletivas sem deixar de dar a cada um o que precisa para aos poucos e ao longo do tempo fazerem suas escolhas. Existe um forma de liderar sem querer manter a subordinação. A busca incessante de libertar as pessoas do que as limitá-las e conduzi-las a realizarem suas tarefas e obrigações sem se sentirem traindo a si mesmas.
Não existe obediência concedida e influência devastadora do que aquele fundada no pacto da identificação afetiva. Não estou falando do amor exagerado, da paixão torrente da idealização alucinante. Do sentimento de compreensão, parceria e humanidade de conviver com quem se coloca como igual mesmo exercendo a autoridade legítima que nos diferencia.
Alguns aprendem de forma amarga e exercitam de maneira brilhante a liberdade. Sabem concedê-la e deixar as pessoas fazerem suas escolhas. Não querem o controle sobre ninguém, estão sempre dispostas a contribuírem para aquilo que as pessoas necessitam. Mesmo que esta necessidade seja a ruptura da relação que se tem. A obediência é uma circunstância, uma característica da relação, que pode se encerrar e deve, no tempo certo.
Relações duradouras são as que não necessitam de controle. São as que permitem às pessoas fazerem suas escolhas. Quem busca exageradamente o controle do outro, projeta o mau comportamento em alguém que teria se tivesse a mesma oportunidade. O que desejamos impedir que o outro faça, controlando, é aquilo que faríamos se tivéssemos a oportunidade.
A liderança fundada no reconhecimento jamais controla para impedir e sim delega para libertar. Se queremos saber o quanto as pessoas nos respeitam, temos que dar a ela a liberdade de fazer, dizer e expressar o que sentem. Os fatos são a declaração que muitas vezes a boca se nega a dizer.
Por isso, se quer uma liderança de fato, seja de fato um líder. Se quer saborear o poder e exercê-lo com autoridade, construa-o.
Comentários
2 min
Comentários
1 min