Destaques
2 min
Sempre estamos nos medindo em relação ao outro. Somos melhores? Estamos no caminho certo? Errei ou acertei? Para estas questões, assim como para muitas outras, um olhar em alguém sempre nos dá uma medida. Porém, em grande parte, é uma ilusão. Não somos iguais a ninguém. Se há uma igualdade pregada nas democracias, não se pode comparar a construção de uma vida particular ou de uma coletividade com outra.
Agora estamos novamente com a medida norte-americana se popularizando. Nunca deixou de ser o comportamento dos Estados Unidos da América uma referência. Porém, generalizar a comparação e considerar que copiando o comportamento encontraremos a solução são ilusões. Há uma diferença fundamental na construção de uma nação. A sua própria história, sua origem, seus sentidos, suas relações.
Mesmo que tivéssemos dispostos a negar nossa condição para assumir a do outro, isso seria um erro grave. Não agiremos diante de nossas medidas como aquilo que temos de referência. Não se pode trocar o que somos apenas porque desejamos. Podemos mudar, para isso é preciso partir da consciência de nossa origem, da nossa história, dos atos que tomamos e não do que gostaríamos de ser. A idealização não é a ação.
Por isso, considero que devemos gastar mais o nosso tempo compreendendo o porquê temos determinados comportamentos e o que realmente necessitamos. A receita do “alheio” lhe serve porque se traduz no que ele é. Enquanto continuarmos negando nossa relação e sentido vamos estar distantes de uma solução definitiva. Como é difícil para um grande número de pessoas aceitar a nossa identidade enquanto povo.
Dois grandes pensadores da economia e da política já estudaram a sociedade norte americana. Alex de Tocqueville, por exemplo, teve na democracia dos Estados Unidos um dos seus objetos de análise. Considerava que ela tinha peculiaridades. Admirava a forma direta da decisão, mas apontava a elitização do voto e suas restrições. Alertava para ignorância como um temor da liberdade de decisão do povo. A burrice pode escolher um burro.
Max Weber, um dos clássicos da sociologia e da economia, admirava a forma como a economia norte-americana se desenvolvia. Considerava que as imigrações inglesa e irlandesa[1] foram fundamentais para a disciplina no trabalho. O protestantismo como fonte de inspiração e ambiente onde a economia produtiva, a indústria, era vista como um benefício. A ética protestante direcionou o sentido da economia. Mas a economia sempre foi um determina racional onde a cultura dava sentido ao ato necessário de forma lógica.
Temos nossas origens, muitos pensadores a negaram ao longo do tempo. Na análise de nossa construção, intelectuais consideram que nosso erro estava na composição dos elementos formadores do povo. O português, o africano e o indígena foram criticados. Considerados responsáveis por nossa paralisia, negação ao trabalho, falta de “vontade”.
Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro são dois clássicos da análise da formação brasileira com mais qualidade e profundidade. Perceberam em sua análise nossas peculiaridades. Somos um povo singular e temos que entender isso. Diante do que estamos vivendo, esta compreensão seria um bom começo e não a busca de importar ideias e modelos de forma inconsciente do que somos.
[1] Lembrando que os Estados Unidos da América teve um processo migratório alimentado pelo deslocamento de pessoas vindas de inúmeras nações. Italianos, alemães, chineses, espanhóis, etc. Destacamos os irlandeses e ingleses por fazer parte da análise de Weber na obra “A Ética Protestante e o Espírito Capitalista”.
Versão em vídeo e áudio:
Destaques
2 min
Comentários
2 min