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O materialismo histórico e dialético é quase sempre uma exaltação ou uma condenação na atualidade. Nos últimos tempos, com a queda de governantes que se posicionam ideologicamente de “esquerda”, ser marxista é visto como um idólatra do erro. Acredita no absurdo. Um defensor do autoritarismo e apego ao empobrecimento e defensor da paralisia social.
Por um outro lado, há uma formação acadêmica com uma forte influência do materialismo histórico, pelo menos na identificação. Porém, muito desta formação trabalha as teses de Marx de forma limitada. Há poucos profissionais na área de humanas que tem um domínio coerente das teses do pensador alemão. Porém, o apego às teses de Marx são nítidas, mas nebulosas.
Falar de Marx requer manter-se em sua originalidade teórica. Entender o contexto da produção de suas teses. Sempre é importante lembrar que ele viveu no Século XIX, onde as consequências da Revolução Industrial ainda apresentavam sua nudez crua. Um êxodo rural intenso e conflitos sociais constantes. Ele sentia o peso do processo de industrialização na “lente” e na “mente”.
Desta forma, é melhor entendermos o capitalismo que Marx descreveu como seu ponto fundamental de partida. A mercadoria é a gêneses do sistema que buscou desvendar. Nela repousa a condição fundamental para a superação das necessidades humanas. Ou seja, a vida está submetida a condição da mercadoria para poder ter acesso às suas necessidades. Comer, dormir, vestir, se educar, se informar, se deslocar, tem um custo material que se traduz em possibilidade na condição da mercadoria, onde se estabelece o valor. “Tudo” se submete nesta condição.
A produção da vida só é possível na relação entre homens, meios de produção e a natureza. No capitalismo, esta relação é intermediada pelo processo de troca medida pelo valor monetário. Calculando custo, tempo de produção e as condições de troca. A relação logo ganha uma dinâmica da relação de demanda e oferta, mas sempre com a condição de acumulação como determinante. Para atender as necessidades humanas há um custo que gera lucro e isto é determinante na condição de oferta. A mercadoria é esta condição.
Na produção da vida material, nas relações de produção, há a propriedade dos meios de produção e a força de trabalho. Esta condição está separada nas relações capitalistas pela condição de classe: a burguesia como proprietária dos meios de produção e o proletariado como força de trabalho.
A classe proprietária dos meios de produção os detém como bem privado e que é determinante nas relações produtivas, principalmente com o desenvolvimento da maquinofatura. O proletariado é força de trabalho livre, que se coloca na condição de força produtiva porque troca, através do valor monetário, o seu tempo de trabalho pela remuneração necessária para adquirir em forma de mercadoria aquilo que necessita para suprir as suas demandas, por mais simples e complexas que sejam.
Na condição de acumulação, a classe burguesa que detém os meios vitais para a geração da vida em sua complexidade, marcada pelo desenvolvimento constante das forças produtivas. Este é um papel importante da ciência e da tecnologia, contribuindo para o aprimoramento dos meios de produção. Por isso, fazendo uma referência com a atualidade, o desenvolvimento tecnológico tende a dar mais concentração de capital, poder material e influência sobre a vida humana por ser mais determinante na superação das necessidades materiais.
Logo, a análise do materialismo histórico dialético, as instituições, normas e organizações se consolidam dentro das relações capitalistas de produção e, para Marx, a legitimam. Ou seja, dentro da sociedade fundada nesta condição busca a reprodução do próprio sistema, fundado, como falamos anteriormente, na acumulação através da mercadoria.
O estado democrático de direito, fundado no liberalismo e na cidadania, é, para Marx, um instrumento de dominação fundada na condição da propriedade privada dos meios de produção. O que garante a manutenção da concentração e controle sobre a produção da condições de superação da vida material nas mãos da classe dominante.
A condição de controle dos meios de produção, sua propriedade, se tornaram complexas com o próprio processo de aprimoramento, desenvolvimento, e ampliação das relações de produção. A sofisticação técnica e complexidade de controle dos meios de produção acaba por fazer da chamada classe burguesa uma classe com as mais diversas condições de poder material.
Logo, a burguesia não é uma classe homogênea. Vive condições distintas. Não apresentam o mesmo poder material. Por isso, não podemos simplificar a análise da sociedade atual e colocar uma leitura simples sobre o poder estabelecido do capital na sociedade atual usando as teses do materialismo histórico dialético. Por isso, muitos se perdem na compreensão com as teses de Marx sobre a atualidade. Simplificam ou distorcem sua abordagem.
Não sou adepto das teses de Karl Marx. Porém, acredito que como um teórico que influenciou gerações e tem uma abordagem lógica, não deve ser desprezado ou e principalmente mal tratado. Há que se respeitar. Sem colocar uma teoria como uma idolatria ou um ódio, considerá-la na condição em que merece, uma forma de compreender as relações, que não são unânimes.
Espero poder ter ajudado com esta análise.
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