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A história da televisão no Brasil é a mistura do próprio sonho de modernidade que se desencadeou no país com o “desenvolvimentismo” econômico. A esperança de um país que fosse mais justo e rico. A ideia de que o crescimento econômico viria a trazer a distribuição mais justa de renda. Para alguns sim, para a maioria não.
Em 1950, quando a TV Tupi foi inaugurada, a televisão não conseguia competir com o “queridinho” das massas, o rádio. As emissoras se proliferam no país e se transformaram no principal meio de comunicação de massa. Ganhou os diversos cantos do país. Permitiu a conversa direta, para todos, em um país onde metade da população ainda era analfabeta.
A linguagem do rádio traduziu muitos dos anseios e mudanças que as populações de baixa renda estavam passando. Muitos dos brasileiros viviam a migração do campo para a cidade, o êxodo rural. Distâncias imensas eram percorridas de ônibus e pal de arara. Viajar a busca de um sonho e deixando a saudade de uma vida agrária que as canções sertanejas de raiz retratavam tão bem.
Não por acaso, os bares deixavam o rádio ligado e viam parte de seus clientes cantarem a toda a voz as saudades de um mundo que não voltaria e que continuava vivo na lembrança. Vá atrás de uma música de Tonico e Tinoco, escute e fechando os olhos, saberá do que estou falando. A música permitia, sem imagem, soltar a imaginação e refazer o passado para anestesiar o presente preço na cidade, aglomerada mais fria. Distante do calor humano que o campo deixava. Era também o fim do romantismo sobre as pessoas na vida intensa e tensa da cidade.
As periferias crescem na proporção em que a migração se torna a única alternativa para se superar a exclusão que se abateu com a mecanização agrícola. A modernidade também chegou na zona rural. A decadência do café fez surgir culturas mecanizadas e deslocar uma massa humana para os grandes centro. Nele, a promessa que a industrialização propagava do emprego e de uma vida melhor. Ilusão, ainda hoje há um grande número de pessoas que migram se apegando a um sonho que se desfaz a partir do momento em que se chega e se percebe que do discurso da prosperidade há pouco a se colher para quem pouco tem de qualidades para oferecer ao mercado.
Nenhum outro evento marcou o símbolo do desenvolvimentismo no Brasil do que a construção da nova capital, Brasília (1960). Coroando o governo de Juscelino Kubitschek (1956 a 1961), os 50 anos em 5 foi um fato, mas não da forma que se publicou. O crescimento da economia foi um fato, mas se consolidou o abismo social. Principalmente em uma sociedade urbana que estava se consolidando e carregando as cicatrizes da sociedade agrária que lhe deu vida.
A cidade foi também o palco de novas relações de poder. Emergindo da formação de um classe operária, de trabalhadores urbanos, cada vez mais numerosa, unificada pela condição de vida urbana e ligada às manifestações populares, lideranças agendaram o discurso sobre temáticas de relevância as classes populares. Elas nunca se realizavam, mas sempre foi tema da oratória demagogia do populismo. Getúlio Vargas foi mestre e deixou discípulos.
Neste sentido, o rádio foi ferramente que captou estes primeiros agentes. Mas, a televisão faria com mais eficiência a construção de temas e personagens. Ela não teria a mesma popularidade inicial que o rádio. Ainda era móvel de destaque na sala das residências. Iniciando sua jornada como artigo de luxo e diferencial social. Mais tarde, um produto de primeira necessidade na comunicação popular.
Não por acaso, seria a classe média que ditou as primeiras pautas da televisão. Ela seria a responsável pela pregação moral que deu orientação a abordagem de temas e geração de programação. Estar falando com a família na sala requer fortalecer os conceitos da família tradicional. O patriarcalismo, a religiosidade. Quantas emissoras tinham suas missas dominicais.
O contexto da Guerra Fria (1946 a 1989) determinava a tomada de posição a favor da democracia e no combate ao comunismo. Desenhado com um mal a ser combatido, o regime vermelho era criticado e associado constantemente a todos os males. Uma imagem soviética foi construída em torno do militarismo e da proibição. Ironicamente, não se associava o regime militar que se instaurou no país entre 1964 a 1985, o qual tinha princípios idênticos de controle e opressão.
O consumo ganhou ênfase na televisão em dimensão maior do que o que foi estabelecido no rádio. A imagem facilitou e facilita em muito a sedução. A construção de um público de consumidores que consegue ver a sua realização simbolizada na aquisição de produtos disponíveis no mercado e valorizados socialmente. O que todos veem, todos querem e alguns têm.
A televisão nasce em um ambiente em que o impresso se diversifica e os interesses pessoais ganham a satisfação com revistas especializadas para públicos específicos. A vida urbana gerava diversidade de demanda. Entre as décadas de 1950 e 1960 um grande número de títulos nasceram como periódicos semanais e quinzenais. Veja (1968), Manequim (1959) Realidade (1966), Quatro Rodas (1960), Realidade (1966) e Cláudia ( 1961) são alguns exemplos.
Os jornais atingem um número significativo de exemplares vendidos. Um recorde histórico para o período foram as 500 mil tiragens do Última Hora, em 1956, quando publicou na íntegra a Carta Testamento de Getúlio Vargas, ao mesmo tempo em que dava anúncio de seu suicídio.
O Brasil tinha mudado o perfil populacional e continuará mudando. A população chegava a mais de 71 milhões de habitantes no final dos anos de 1960. Mas 40% da população permanecia analfabeta. Contudo, os brasileiros estavam mudando sua percepção do ambiente em que viviam. Incorporaram o comportamento urbano como condição de vida e seus conflitos diários.
Se as páginas policiais passam a chamar a atenção nos jornais impressos, nos programas de rádio, também avançaria na televisão. Ao mesmo tempo, as radionovelas que faziam sucesso nas décadas de 1950 a 1960, ganharam também a televisão. A televisão buscou no rádio a inspiração para seus primeiros grandes programas. Os de auditório se transformaram e inspiraram os festivais de canção. Os da TV Record foram os que tiveram mais fama e público.
A violência urbana já se tornava fato, mas não na escala que temos hoje. Ela cresceria na proporção da população. O Estado de São Paulo se consolida como o mais populoso do país e a capital paulista assume a liderança demográfica que antes era do Rio de Janeiro. A cidade de São Paulo tinha na década de 1960 mais de 5,6 milhões de habitantes, enquanto o Rio de Janeiro não chegava a 5 milhões. Só o Estado ultrapassava os 16 milhões.
Mas, o consumo interno aumentava gradativamente no país. A oferta de produtos pelos meios de comunicação fazia o mercado publicitário crescer. E os anos 60 já demonstravam a liderança da TV como ferramenta publicitária absorvendo 39% do dinheiro empenhado em publicidade.
O consumo urbano se associa a chegada de grandes empresas e marcas no país. Os meios de comunicação divulgam produtos e importam padrões publicitários. A propagação da TV como objeto doméstico faz emergir uma divulgação urbana do comportamento associado às marcas. O conservadorismo da família de classe média é um campo fértil para a venda de eletrodomésticos.
O regime militar instalado em 1964 buscou um controle rígido dos meios de comunicação desde seus primeiros tempos. Iniciar uma jornada de limitar a informação ao que o poder considerável aceitável e convergente com uma ideia de um país conservador e rumo ao progresso.
O Ato Institucional número 5, instalado em dezembro de 1968 foi o marco do fechamento mais rígido do governo ditatorial. A censura se tornava mais intensa. E a busca de um discurso unificado para passar a imagem do progresso e desenvolvimento crescia.
Da forma como os meios de comunicação ganham eficiência em atingir um público cada vez maior, é fundamental entender que eles também permitiam a construção de uma nova forma de compreensão de si e da vida, induziram desejos e estimulavam sonhos. Organizavam a construção de uma imaginação cada vez mais aguçada pelo ambientes e coisas divulgadas por jornais impressos, emissoras de rádio e TV.
Outra questão fundamental é a da continuidade com elementos ou temas, o registro da memória imediata e de médio prazo. Fica sempre o registro dos meios de comunicação em trazer novamente à tona um determinado acontecimento. A grande maioria das pessoas passam a ter nos meios de comunicação um gatilho da memória e dos significados do que aconteceu. O fato é abordado como notícia e seu passado como justificativa do porque ele é lembrado.
A tradição no rádio e TV de determinados programas passa a ser o controle do tempo das pessoas, da hora, do dia da semana e das atividades pessoas agendadas de cada tempo. Ao ponto de ser a sensação e o tom que se dará a vida que se vive. O registro do sentimento das pessoas na relação com a programação. Me lembro até hoje que Silvio Santos ficava um domingo inteiro com seus público com os mais variados temas em um programa de shows, calouros e jogos de sorte. Era o registro do domingo e do seu sentido e toada.
Não por acaso, intermediando a programação e fazendo parte de sua atração, as campanhas publicitárias ganhavam espaço e ficavam cada vez mais trabalhadas. Os personagens e produtos iniciavam uma padronização de beleza divulgada popularmente. Se massificava os objetos e os desejos. Premiações e promoções geram esperança e ajudavam a manter o telespectador atento. O rádio também tinha destas coisas, mas não com a intensidade sedutora que a televisão soube traduzir em imagem sedutora, aliando áudio e vídeo.
A vida privada é invadida e agora tem companhia permanente que “espanta” a solidão. O rádio e a televisão estabelecem uma conversa, a princípio um monólogo, que distrai. Acaba por tirar as pessoas da sensação de isolamento. Elas podem controlar o tempo, mas muitas se perdem nas horas em companhia das mensagens em áudio e vídeo que vão atingindo sua compreensão das coisas cotidianas. Uma sensação de se ter representação e percepção da realidade para se garantir um senso comum diante da vida. Se unifica o sentido e se estabelece uma definição comum sobre os problemas do dia a dia.
A multiplicação dos aparelhos de televisão é rápida no país. Concentrada nas regiões de maior renda, inicia a sua penetração das classes populares. Em 1969, já existiam mais de 3,2 milhões de aparelhos no país. A TV Tupi era a principal emissora, com uma rede de afiliadas pelo país. O Repórter Esso se consolidava como o principal meio jornalístico de informação de massa, tanto no rádio como na TV. O “testemunho ocular da história”, era o principal refrão do programa de rádio e telejornalismo.
Contudo, o programa jornalístico não dominava o tempo do rádio e da TV. Na telinha eram os filmes que ganharam a maioria da programação. Os programas de auditório prendiam a atenção recheados com sorteios e a construção de personagens icônicos. Programas de humor, novelas, a programação variava e multiplicava os interesses. Sem esquecer que em 1969 ocorreu a primeira transmissão via satélite do homem chegando a lua. Um pequeno passo para um homem e um grande passo para a humanidade, o mundo acompanhou isso.
O Anuário Estatístico do Brasil demonstrava a concentração das emissoras de rádio nas regiões com maior densidade populacional e concentração de renda. As capitais brasileiras detinham o maior número de emissoras. O país vivia a construção de uma rede de comunicação associada ao desenvolvimento e urbanização.
Nas regiões mais afastadas o aparelho de televisão restrito era oferecido a muitas populações de pequenos municípios em uma praça central. As pessoas se concentravam para ver a imagem que hipnotizava a população. Cacá Diegues afirma que a televisão popularizada no centro da praça, tomava o lugar do coreto como espaço de apresentação da arte popular.
O crescimento da televisão se associa ao período mais duro da Ditadura Militar (1965 a 1985). O regime que tinha ampliado o endurecimento com a oposição e fechado o Congresso Nacional demonstrava sua força. A capacidade de associar o regime ao progresso se associou ao chamado “milagre econômico”, onde o desenvolvimento do país se expressava na grande concentração de renda. Os discursos de que o Brasil era o país do futuro se popularizou e se fez popular. Ao mesmo tempo, a censura e a expulsão dos opositores do regime, os inúmeros personagens políticos e culturais que foram exilados é uma dimensão desta política.
A Tupi e Record dominavam o cenário da transmissão televisiva no país. As duas tinham mais de 65% da audiência em 1971. Longe do aspecto que marcou o ano de 1975 até nossos dias. O que se coloca como um padrão da televisão brasileira construído pelo Sistema Globo, foi resultado da profissionalização e investimentos no desenvolvimento técnico da informação. Lembrando sempre, que um padrão de internacionalização e acordos com produções mundiais contou. Mais ainda, a relação com o poder estabelecido, a Globo se transformou em um porto seguro para o regime militar. Parceria que abriria portas e permitiria a expansão da emissora até a liderança.
Um dos aspectos que permitiu a Rede Globo mudar a estratégia para atingir eficiência e condições técnicas para a liderança, foi um desastre, o incêndio em sua unidade de São Paulo. A emissora transferiu a sede de sua produção para o Rio de Janeiro e manteve na capital paulista apenas o Programa Silvio Santos, campeão de audiência aos domingos.
Lembrando que Silvio Santos, outro personagem a parte da história da televisão, apresentava seu programa em duas emissoras, Globo e Tupi. Na primeira aos domingos e na segundo as quintas-feiras. No programa dominical o apresentador, que tinha uma produção independente, entrava no meio da manhã e só saia do ar no começo da noite. Algo que ainda hoje ele faz com eficiência, sem a mesma extensão e audiência.
Não podemos esquecer em apostas positivas de programas populares da Globo como Chacrinha e Dercy Gonçalves. Foram estas atrações que geraram uma arregimentação de público das classes populares que crescia constantemente como telespectadores. Em 1970 já existiam 4 milhões de televisores e mais de 25 milhões de telespectadores em todo o país.
Um dos fatores para a derrocada do Grupo Tupy de comunicação foi a morte de seu fundador, o empresário Assis Chateaubriand, em 1968. Com isso, a empresa se desestabilizou na administração da sua relação com o poder público. Perdeu a orientação como empresa de comunicação e passou a se fragilizar diante de perdas dentro da programação e nos elencos de programas de lazer e jornalismo.
Antes o mundo era pequeno porque a terra era grande. Hoje o mundo é muito grande porque a terra é pequena e cabe dentro de uma antena parabólica camará. Este refrão da Música de Gilberto Gil nos dá a dimensão do que foi a transmissão via satélite no Brasil. A chegada do homem a Lua foi transmitida em 1969 na íntegra pela TV Tupi. Ela liderou a audiência durante toda a transmissão, que se iniciou desde o lançamento do foguete Apollo 11. O evento iniciava a capacidade de parte considerável da população mundial estar acompanhando um evento que fortalecia a relação do homem com o espaço, tempo e comunicação.
Hoje não nos damos conta da importância das transmissões via satélite. Isto passa despercebido nas inúmeras vezes que assistimos, por exemplo, um telejornal. Mas demonstra a integração de padrões e valores que chegam a vida das pessoas constantemente e com modelo planetário. O tema mundial se estabelece como prioridade em questão de segundos. Todos os olhares se debruçam sobre o acontecimento narrado a direcionar os aspectos parciais do registro mundial.
Durante a Guerra Fria (1945 a 1989) esta forma de transmissão tinha um poder ideológico vital para o fortalecimento da valorização ou crítica a uma das superpotências (Estados Unidos e União Soviética). A disputa pela comunicação mundial é uma demonstração clara do investimento nos meios de comunicação de abrangência planetária. Os valores locais e a vida comum passariam a conviver com as questões internacionais costumeiramente. Seriam discutidas e refletidas não como possibilidades objetivas e sim como condições ficcionais de uma sensibilidade real, por mais que distante.
O regime militar brasileiro investiu intensamente no aprimoramento da comunicação via satélite. Mesmo em informações que poderiam percorrer o país, a comunicação ganharia eficiência com esta ferramenta. Muito das transmissões a distância no país necessitam deste recurso para ter eficiência.
Voltando a falar da transmissão da chegada do homem a Lua, o passo dado por Armstrong ganhou o interesse da humanidade. Esta condição não poderia deixar de abalar a vida cotidiana quando ocorreu em julho de 1969. Pessoas nos mais diferentes espaços e em condições diferentes se viram direcionadas para um grande feito da humanidade. Contudo, se o feito de ter chego a Lua tem um impacto significativo na história humana, a transmissão do evento gerou ao longo do tempo muito mais mudanças no dia a dia.
Nem todos assistiram o feito da chegada do homem a Lua. Havia uma quantidade significativa de pessoas apartadas de uma realidade ficcional e vivendo uma outra condição objetiva que não os fazia espectadores do “grande acontecimento”. Se pensarmos ainda hoje há um grande número de pessoas apartadas de acontecimentos e informações. Excluídas por outra condição tecnológica.
Ironicamente, em setembro de 1959, quando a primeira nave não tripulada chegou a Lua, como obra soviética, foi o rádio o primeiro a dar a notícia. Contudo, não gerou o mesmo impacto que a televisão provocou. Ver o feito demonstrava um poder de penetração no imaginário social maior do que a criação mental de uma sonoridade estimulante. O feito heróico construído na mente, pela televisão, pode ser visto a nossa frente.
O investimento em tecnologia de comunicação por parte do poder público foi fundamental na construção de uma rede de contatos interligados para mensagens em tempo real. As emissoras de televisão usavam deste recurso, mas esporadicamente devido ao custo. Apenas a Rede Globo contratou o serviço de forma permanente para o uso de transmissões à distância. O encarecimento do custo de produção foi repassado para os valores publicitários e o aumento de afiliadas por todo o país.
A televisão é uma produção cara, exigindo na época um investimento elevado. Porém, sua popularização e penetração passou a ser visto como algo seguro para quem desejasse ter produtos e serviços vendidos em todo o território nacional. Os eventos e programações dentro da grade das emissoras ficaram cada vez mais carregadas de mensagens publicitárias. O que rendeu a algumas emissores o sustento o suficiente para novos projetos. Contudo, o custo da tecnologia exigia uma renovação constante de equipamentos, o que nem todos tiveram fôlego para acompanhar.
Os eventos esportivos da década de 1970 invadiram a televisão e se associaram a exaltação do sentimento pátrio. O herói nacional seria visto vencendo em terras estranhas e estrangeiras. O primeiro destes feitos foi a seleção brasileira de futebol que vence a Copa de 1970, a qual é transmitida via satélite. O país vibrava com as vitórias da seleção canarinho. E, se distraiu ou se encantou enquanto pessoas eram torturadas nos porões da ditadura.
Médici, o presidente general, governava o país abaixo de suas botas, mas sentado em frente a televisão e acompanhando os jogos da seleção brasileira. Feliz por saber que a alegria popular era imensa e capaz de cegar o custo da manutenção do poder embriagado pela sensação de progresso que os meios de comunicação expressava.
Emerson Fittipaldi venceu campeonatos de Fórmula 1, nos anos 1970. Outro herói nacional em pleno desenvolvimento da indústria automobilística no país. Não por acaso, os irmãos Emerson e Wilson criaram a primeira equipe brasileira a competir na categoria.
Em 1976, já com a liderança da Rede Globo em todo o país, o Brasil tinha 11,6 milhões de aparelhos de televisão. Planos de financiamento dos televisores facilitaram que famílias tivessem acesso aos aparelhos. A TV colorida e o controle remoto passaram a fazer parte do aprimoramento da qualidade de uso e a influência do produto sobre o comportamento familiar.
A Copa do Mundo de Futebol de 1970 foi assistida por mais de 25 milhões de brasileiros. O jogo do Brasil com a Inglaterra pela competição teve mais espectadores que a chegada do homem a Lua no ano anterior. Mesmo quem jamais tinha frequentado um campo de futebol passou a admirar o esporte. Hoje, não se pensa os grandes campeonatos sem a televisão. Quem assiste a distância tem mais relevância para a manutenção do esporte do que quem frequenta o estádio.
Uma observação interessante é o narrador do jogo de futebol que ainda herdava as narrativas do rádio. Falava o tempo todo, descritiva lance a lance, mas as imagens ainda não tinham uma relação com a descrição do locutor. Hoje, os jogos tem uma complementaridade entre o que se narra e o que se vê. Narradores viraram comentaristas mais atentos das partidas. Uma fala mais calma e a ênfase emotiva nas jogadas continua, mas complementando o que o olhar testemunha. Hoje, a imagem é testemunha com sua própria mensagem e dispensa as palavras.
A televisão permitiu editar o Brasil. Fazer com os brasileiros fossem testemunhas do progresso e o sentissem nos olhos, porém, sem que isso se traduzisse em uma realidade vivida. A exaltação da pátria era percebida em rituais emocionais de programas e documentários. Falar do sentimento de desenvolvimento e crescimento. Dos personagens que estavam vivendo um Brasil novo que seria um dia para todos. Na profética fala do então ministro da Fazenda Delfin Neto, “fazer o bolo crescer para depois dividir”. Realmente a riqueza cresceu e nunca se dividiu. Se multiplicou em poucas mãos. Grande parte continuou e continua vazia.
Hoje é mais clara a desigualdade apresentada nos meios de comunicação. Denunciada cotidianamente. Falada intensamente. Exposta nas carências da população aglutinada em periferias das cidades que cresceram com a modernização e ficaram um retrato da desigualdade. A guerra urbana é televisiva e tem mais vítimas do que as guerras formais. Sem prazo para acabar e se transformando no destino de muitos brasileiros, com agentes ou vítimas.
A televisão retrata hoje com maestria e diversidade os resultados da modernidade. Não resolve, mas denuncia. Tecnológica, a comunicação cada vez mais é particularizada. É convergência anunciada de muitos meios. Esta particularidade que informa também tira o sentimento de pertencimento de uma grande parte da população. Isola o conteúdo e o reconhecimento de cada um com um problema que é de todos, assim como a solução. Mas a discussão destes e outros temas fica para uma próxima postagem…
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