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A república brasileira foi formada por militares. Não foi um movimento popular com grande apelo da sociedade que saiu as ruas em busca de defender um regime mais representativo. Ilusão, foi golpe. Nossa sorte, ou azar, é que o imperador deposto não resistiu. Se tivesse feito, talvez o regime republicano não tivesse se instalado ou demorado a ser implantado no país.
Mas voltando a falar dos militares, a proclamação foi feita por um homem de farda. Porém, outros fardados também governaram o país ao longo da república. O cargo militar sempre encantou uma parte da sociedade que idolatra o regime de exceção e a imposição da disciplina. A crença de que o juramento da academia e sua disciplina rígida irá nos salvar. Doce ilusão. O mal também está nas fileiras das forças armadas.
Hermes da Fonseca foi o primeiro militar eleito no Brasil. O sobrenome não nega, era sobrinho de Deodoro da Fonseca, o proclamador da república. Que por sinal era amigo do imperador. Hermes também tinha seus “bons” serviços prestados ao império. Foi ajudante de ordens do Conde D’Eu, o genro de Dom Pedro II.
Hermes subiu ao poder como presidente após uma campanha acirrada com Rui Barbosa. O político baiano defendia o civilismo. Considerava que o país precisava ampliar os direitos dos cidadãos e dar mais garantia a população para acabar com os desmandos. Já, Hermes da Fonseca defendia o militarismo salvacionista. Somente a intervenção nos Estados e a centralização do poder nas mãos do presidente seria a solução.
Venceu o desejo de um governo utópico do militarismo que já tinha demonstrado sua força na Proclamação da República e principalmente durante o governo do marechal Floriano Peixoto. O chamado florianismo foi a primeira expressão de defesa das forçar armadas como “agente purificador do regime”. O que assistimos hoje vem de longa data.
O centralismo de Hermes da Fonseca levou a criar o próprio partido, o Partido Republicano Conservador, o que não se consolidou na história republicana, mas marcou o desejo do presidente de ser autoridade absoluta.
A presidência de Hermes foi de 1910 a 1914. O presidente conviveu com conflitos regionais e revoltas, a mais importante delas foi a da Chibata. O descontentamento dos marinheiros, em sua maioria afrodescendentes, que sofria preconceito e não tinham soldos dignos ou carreira militar. Maus tratos dentro da marinha era prática antiga, remontava o império.
O governo do marechal foi um fracasso diante do que prometeu. Não estabilizou e aprofundou os conflitos oligárquicos que ficaram expostos em seu governo. Ele saiu e ninguém sentiu falta.
Esta busca da salvação pelo militarismo foi parte constante da história republicana. Emergiu no discurso da purificação do regime e da implantação da “honestidade” por imposição. O discurso de separar os bons dos maus sempre foi encantador e facilitador aparente dos dilemas do país. Para quem tem um olhar mais atento, sabe que as coisas não se resolvem assim.
Sempre é bom lembrar que o passado é uma boa medida para nossos atos. Se caminha para frente, mas nos passos que se dá há tendências dos caminhos que já percorremos. Na busca de valores aparentemente inovadores praticamos velhos erros e pagamos o preço. Logo, nem sempre o novo é novidade.
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