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Vivemos a vida para o consumo. Não é uma condição óbvia, por mais que aparente. Somos educados. E a relação que estabelecemos entre nós está, cada vez mais, envolvida com os objetos, serviços e ambientes, com sentidos associados a aquisição. Estamos nos sentindo cada vez mais humanos pela desumanização que a relação de acessos a bens e serviços estabelece. Isto pode ser fatal.
Jean Baudrillard, fotógrafo, antropólogo e filósofo francês, já falecido, é considerado um dos mais importantes pensadores da lógica que a sociedade de consumo estabelece, da qual é um árduo crítico. Para ele a simbologia e todo o significado da lógica publicitária agora assumem contornos de realidade. Estamos rodeados pelos objetos e é com eles que dialogamos.
Fazemo-nos notar pelas coisas das quais nos transformamos em extensão. Os objetos se tornam a identificação. O que nos dá singularidade e nos apresenta diante das demais pessoas. Esta condição passa a ser estabelecida desde a tenra idade na sociedade urbana industrial. Os meios e seus canais de comunicação se preenchem de anúncios e coisas que se tornam o sentido dos vínculos que adquirimos.
Os lugares acompanham em sintonia convergente a lógica publicitária. Vivemos os melhores momentos enquanto “seres humanos” nos ambientes de consumo, está é a intenção. É neles que encontramos outras pessoas, que nos tratam como seres singulares, com um valor próprio. Despercebemos a construção da existência em um mundo produzido por humanos. As coisas que nos rodeiam são obras humanas. Isso se perdeu na constante ambientação para o consumo.
Mesmo que, fechado em um quarto, estando na aparência do isolamento, convivo com um mundo intermediado por objetos. As mensagens que me chegam, com a lógica da individualidade e na particularidade, me demonstram o quanto há uma estética, uma simbologia, uma gama de significados mais nas coisas do que nas pessoas. E os outros só ganham sentido diante de uma construção efetiva e afetiva da apresentação simbólica das mercadorias. O ser fala mais pela aparência simbolizada nas formas prontas do produto e serviço à venda do que pela essência.
Abandonamos o princípio da racionalidade objetiva para acompanharmos a lógica das sensações que elas ocasionam. Se somos seres que nos educamos pelos sentidos – olfato, audição, tato, visão, sonoridade –, agora o estudo da apresentação dos objetos e serviços do mercado, de forma inteligente e pensada, manipulam estas mesmas sensações. Somos educados pelo mundo do consumo. Ele nos determina o valor que antes construíamos na convivência com outros seres humanos, na descoberta das pessoas e não nas coisas.
Os ambientes de consumo nos seduzem. Nele há duas lógicas fundamentais, a da raridade e da abundância. Os produtos que consumimos pela relação de valor absoluto, exclusivo, de identidade pessoal com sua aquisição. São apresentados em locais onde se tornam sagrados, em pedestais, altares de idolatria e acompanhados de outros produtos. São raros; Já, quando falamos da abundância, estamos nos referindo aos lugares onde a quantidade imensa do mesmo bem, junto com outros, nos dá a sensação do consumo sem culpa, da satisfação absoluta. Consumir sem temer a falta nos faz ser excessivos na aquisição.
Nada nesta ambientação para o consumo é por acaso. Sua organização é fruto de uma engenharia onde a ciência e a tecnologia estão a serviço. Desde campos de conhecimentos clássicos, psicologia, arquitetura, engenharia, administração, economia, como a multiplicidade de áreas específicas e técnicas, como designer, moda, marketing, que surgiram para atender a demanda do consumo como ação induzida e inteligente. Conhecer o consumidor nunca foi tão importante como agora.
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