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Liderança: nos tempos em que medo era argumento

Quando era jovem, acabando a adolescência, e ainda não ingressado na universidade, mas prestes a isso. Pedi ao meu pai para me arrumar um emprego e me emancipar da dependência financeira do patriarca provedor que ele era. Meu velho, conseguiu uma vaga em uma empresa de um amigo, uma pedreira. Era o prenúncio de como a vida iria ser dentro daquele lugar.

Sempre fui avoado e sonhador. Me cansava rápido de coisas monótonas e de pessoas chatas. Tanto quanto pedra, aquele lugar estava cheio deste perfil humano. O dono era a maior delas. Uma rocha viva e irritante. Agressiva com todos que se encontravam sob seu comando. Invasivo nos ambientes de trabalho e disposto a controlar tudo e todos sem respeitar a dignidade de ninguém. Em suas andanças pela empresa, costumava entrar nos departamentos de produção ou administrativos repentinamente e fiscalizar de forma ofensiva o que cada um estava fazendo.

Em um destes episódios, estava datilografando notas-fiscais para a empresa quando o “deus” do lugar chegou e ficou de olho no que eu estava fazendo. Em um ato de pavor, temendo o inferno e castigo, travei o dedo no meu das teclas da máquina de datilografar. Ele ficou ali, preso. Enquanto meu chefe não tão amado dizia, “vai ficar aí parado me olhando?”.

Eu não quero esta experiência para ninguém. O comportamento que vivi era comum naqueles tempos. Todos os profissionais com quem tinha contato não tinham líderes diferentes do meu. Se existiam, eram raros em um tempo em que administradores tinha o perfil de se impor sobre seus comandados através de ordens que não se discutia, executava.

Hoje, esta forma de liderança não encontra um ambiente favorável. Quem viveu o que vivi, por mais que tenha deixado marcas em muitas pessoas que passaram por experiências como estas, deve superar este “trauma” em entender as limitações daqueles que nos traumatizaram. Nem sempre havia o propósito de agredir por parte do agressor. Não quero dizer que temos que perdoar o mal feito, somente não devemos dar as coisas a dimensão maior do que elas têm. Os líderes autoritários não tinham conhecimento de outra forma de agir. Também, muitos dos que eram liderados, esperavam este ato para obedecer.

Por mais que meu primeiro líder tenha sido autoritário, me ensinou muito. Tudo o que não se deve fazer quando se está no comando. O quanto acumulamos inimigos com tratamentos como estes. Na empresa que trabalhei pela primeira vez, a grande maioria dos funcionários o repudiava. Obedeciam por temor. Este era o código estabelecido nas relações que se propagaram dentro da empresa. A coação que sequestra nossa vontade tendo como principal ameaça o risco de perder o sustento da família. A lógica mais tola que existe e, infelizmente, ainda persiste nas corporações.

Um dos aprendizados desta experiência está em construir uma carreira que não dependa exclusivamente do lugar e do momento em que você está. Procure gerar opções e ficar atento a finitude das coisas. Toda a relação tem seu ciclo. Ele pode se renovar e fazer com que você se mantenha por muitos anos em uma empresa. A satisfação e as mudanças de crescimento podem se dar em um mesmo lugar, na relação com as mesmas pessoas. E não será de forma autoritária que isso vai acontecer. Hoje, mais do que em qualquer outro momento da sua vida profissional, o destino de sua carreira é seu.

 

 

 

 

 

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