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Entramos em pânico. A pandemia atinge índices alarmantes. O que fazer? Trágio. Contudo, é cômico. Se pensarmos que os poderes públicos agem no escuro. Tomam decisões sem certezas e apenas com especulações. Não sabemos com exatidão o número de contaminados. Não temos noção clara de onde ocorre o maior contágio.
Por outro lado, nossa formação é pouco dada à ciência. O conhecimento científico nunca foi a “nossa praia”. A academia é uma continuidade dos martírios da escola. Aprendemos a barganhar as situações e não a conhecer os problemas.
Para complementar nossa forma de enfrentar a pandemia, o Estado assume o papel de inimigo quando nos atrapalha em nossos interesses. E por muitas vezes ele nos atrapalha mesmo. A manutenção do poder é menos representativa em nossa história, autoritária e mais especulativa.
Nós gostamos das benesses do poder e aproveitamos de la quando podemos, só não nos acostumamos a construir a autoridade como possibilidade coletiva. Não participamos das decisões e nos irritamos com decisões tomadas.
Estamos tropeçando no nosso passado. Nas práticas que sempre dominaram nossas vidas e que a um custo elevado, nos traz traumas e nos faz pensar o verdadeiro sentido do que produzimos e praticamos. O que nos irrita no país hoje, é o perfil de nossas escolhas que acabam por prejudicar nossos interesses quando necessitamos do que não temos.
Se gosta de comparar a pandemia que estamos vivendo com a da Gripe Espanhola (1918). Eu prefiro comparar com a Revolta da Vacina. O levante popular contra a vacinação para combater a varíola. Por sinal, a doença já era uma velha conhecida da população brasileira. Assolava o país desde sua fundação.
Oswaldo Cruz, sanitarista e secretário de Saúde do Rio de Janeiro, defendia a obrigatoriedade de vacinação. Defendeu a votação pelo Congresso Nacional de uma lei que tornava obrigatória a imunização. Sob pena de impedir contratos de trabalho, matrículas escolares e, até mesmo, casamentos no civil.
A população se revoltou e a vacinação passou a ser vista pela maioria como uma estratégia do governo para matar a população pobre, principal alvo da campanha de imunização. Os boatos também consideravam que a vacina, fabricada a partir de substâncias extraídas de vacas doentes, faria com que a população começasse a ter “cara bovina”.
Nada de estranho do que temos hoje. Onde impera a dificuldade de entendimento do problema que estamos vivendo. Não, temos noção do mal que nos assola. No limite do conhecimento, parco, razo, fazemos deduções absurdas e distorcemos significativamente a realidade. Agimos mal por causa disso.
Por isso, tropeçamos em velhas práticas com meios modernos. Se antes, a ideia de extermínio coletivo através da vacinação na revolta de 1904 era propagada no boca a boca, hoje, com as redes sociais e a eficiência dos meios de comunicação, a mentira, o “fake” vai cada vez mais longe.
Por isso, a Covid-19 ainda é muito desconhecida em sua capacidade de contaminação e característica de infecção e comprometimento. Não temos muito claro como ela age dentro do organismo. Porém, a forma como lidamos com ela não é novidade. Já fizemos isso antes.
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