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Meu avô era um provedor. Senhor absoluto de sua casa, figura incontestável. Quem o desafiasse estaria comprando uma briga por uma tradição que a sociedade de seu tempo legitimava intensamente.
Meus pais mantiveram muito desta prática patriarcal que conduziu a vida dos meus avós. Eles sabiam que o futuro não teria segredos desde a infância. Que seriam cumpridores de um comportamento que se repetiria parcialmente. Estava naturalizada a desigualdade.
Mas, você pode me dizer que tudo isso é “favas contadas”, coisa do passado. A prática do conservadorismo sim. O ambiente de sustentação do patriarcalismo tem ruído, mas a defesa de sua instituição não.
Pelo menos é o que aponta uma pesquisa do Instituto Ideia. Feita no ano passado, ela demonstra que os mais jovens do sexo masculino são mais conservadores do que a geração que os antecedeu.
Por exemplo, 54% dos que tem entre 18 e 24 anos aceitariam ter um membro da família que fosse homossexual, isso, contra 67% dos que tem entre 25 e 34 anos.
Quando o assunto é igualdade de gênero, os homens mais jovens demonstram seu posicionamento conservador, apenas 27% dos mais jovens defendem os direitos iguais entre homens e mulheres. A média é de 33,8%.
Mesmo com temas que se considera superados e com pouca adesão na sociedade, os mais jovens surpreendem. A virgindade é considerada importante para a maioria deles, 51%. Enquanto a média entre os homens é de 44%.
A maioria de quem tem entre 18 e 24 anos considera que a posse de arma de fogo é algo relevante e deve ser implantada, 60%, a média nacional é de 40%.
Claro que a questão que não quer calar, é por quê?
A resposta para isso está na perda de sentido de valor para a atual geração. Ela nasceu de uma liberdade que hoje contesta. Os filhos navegam em mar de múltiplas possibilidades que os pais reivindicaram e construíram, muitas vezes a “duras penas”.
Porém, o sentido desta liberdade lhes foge como fundamento. Não veem sentido necessário para a defesa do que lhe parece ser um problema, a liberdade.
Isso mesmo, há uma rejeição a liberdade por carência de orientação. Muitos dos jovens de hoje desejam intensamente a orientação de alguém que lhes seja próximo e demonstre com o autoritarismo a preocupação com sua existência.
O argumento parece estranho, sei disso. Mas, é importante considerar o ambiente de afrouxamento dos vínculos domésticos. Na vida cotidiana da família, em média, a presença constante no dia a dia da convivência familiar é uma raridade.
A construção de um sentido de existência não passa mais pelo cotidiano familiar e pelas pessoas que compõe o nosso parentesco direito. Em determinado momento se desprende a existência do outro daquilo que sou e, com isso, as suas escolhas em relação ao que desejo ser.
O fruto do relacionamento não se demonstra preso a relação. Pais pariram filhos, mas não demonstram que sua presença é um ato de consciência cotidiana. Nossos avós e avôs mudavam drasticamente os rituais de sua vida cotidiana com a chegada da prole. Algo que não fazemos ou resistimos em fazer.
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