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Quem não olhou para o céu e apreciou as nuvens? Em um dia de domingo, deitado em um gramado, acompanhado ou não. Ficou observando o movimento delas e identificando formas, apontando e dizendo: – Olha! Aquela parece um cachorro, aquela outra um carro, já aquela um navio e a mais à frente um cavalo.
Depois disso, riu sozinho, interna ou externamente, e refletiu: – Nuvens são nuvens, mera coincidência. Nós estamos vendo nelas o que não existe. Um olhar humano determinando na realidade aparente e forja na simplicidade do acaso uma falsa imagem. Quando criança já fiz muito isso.
Porém, não vejo outra forma de explicar o que algumas pessoas fazem nas redes sociais diante dos fatos, lógica infantil e olhar nas nuvens. Elas estão forçando a ver o que não existe e justificar um absurdo. Leem, onde não há nada, alguma coisa. Expressam como alucinados uma possibilidade absurda.
Uma bandeira a meio mastro por causa do falecimento do Rei do Futebol, Pelé, é vista como um sinal de que as forças armadas estão dando um golpe. O ex-presidente Jair Bolsonaro grava um vídeo e enquanto fala bate com o dedo na mesa, seria um código morse, uma mensagem oculta. Blindados se deslocando de um quartel para outro são tropas do exército se preparando para tomar o poder. Isto é uma doença mental coletiva.
Estamos diante do que muitos teóricos chamam de “pós-verdade”. O termo teria surgido por definição do dramaturgo sérvio e erradicado nos Estados Unidos, Steve Tesich. Hoje, faz parte até do dicionário. É negar os fatos e criar uma verdade fundada somente no desejo, na emoção de que seja o que não é.
Logo, acredito que crianças deitadas na grama e olhando as nuvens, dando a elas as formas que desejavam, estavam mais próximas da realidade do que os alucinados adultos da atualidade. Esta perda de senso em relação a realidade gera conflitos e propaga violência sem uma proposta ou debate lógico. Isto é algo perigoso em uma democracia. Não podemos compactuar com isso.
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