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Infantilização e adulteração

A criança abre o portão do pomar da propriedade de seus avós e contempla árvores frutíferas carregadas, poncãs, laranjas, maças, goiabas e jabuticabas. Elas expressam o colorido de desejo. O pequeno está diante do sonho de poder pegar o que quer na quantidade que deseja. Está feliz. Nada lhe impede de avançar sobre aquelas frutas. Ninguém irá repreende-lo. Tudo pode. Nada tem um custo naquela imensidão de alimentos a sua disposição.

Nesta descrição há a inocência da criança que se satisfaz sem culpa. Se o adulto estiver por parte, um avô carinhoso e amoroso, a demonstração de afeto se expressa também na concessão de atacar os frutos e ver o neto se divertir comendo. Ficará na lembrança da criança, em proporção variada conforme a história de cada um, a imagem de um nono fraterno e que ficava admirando ver o neto se divertir subindo nas árvores e se alimentando em excesso.

Hoje, presenciamos a cena das crianças entre as gôndolas dos mercados e lojas especializadas em alimentos que tem as crianças como alvo. É possível imaginar, o desejo de colher como em um pomar todos aqueles alimentos, tão coloridos, ou mais, do que os frutos nas árvores. Os pequenos de hoje devem ter a mesma sensação de abundância. Não se sentem culpados de quererem se lambuzar com o excesso expresso no volume de doces empilhados. A árvores com frutos sempre carregadas da mesma forma. Temos uma fauna de produtos industrializados.

Esta permissividade se estende a fase adulta. Há uma geração de adulterados pelo excesso que consideram que jamais pode se dizer “não”. Deve-se permitir de tudo para aquele que deseja. Estamos na valorização da superficialidade. A menor vontade deve ser satisfeita. Porém, qual o custo deste mundo do “tudo pode”?

Hoje vivemos a infantilização do adulto. Ele exige ter os mesmos direitos que as crianças. Se irrita com a possibilidade de ser limitado em seus desejos. Raciocina de forma infantil. Quer ter os mesmos prazeres do menino mergulhado em um pomar de delícias. Não pode ser frustrado jamais. Logo, não cresce.

Na relação contrária está a criança que brinca de adulto. Ela se diverte fazendo coisas que antes eram exclusivas a aqueles tinham idade o suficiente para responderem aos seus atos. Agora, adolescentes se vestem de criança e saem a noite. Aparentem responderem por suas atitudes. Contudo, quando um fato pesa, um imprevisto acontece, e exige que o autor assuma seus atos, a criança grita e pede que os pais, o adulto responsável, venha acudi-lo. Brincar de adulto nunca pode ser coisa séria.

Por isso, por todos os lados há uma irresponsabilidade das ações. Inocentamos os adultos das ações que lhes dizem respeito e liberamos as crianças para cometerem seus excessos. O que devemos esperar deste contexto? O futuro é que nos preocupa. Quem irá educar uma sociedade de excessivos infantis?

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