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O senhores da fé que salvam a nação. A retórica religiosa confundida com o poder do Estado e a liderança política vem de longa data. Porém, sua permanência é sinal da ignorância em relação aos problemas sociais, uma manipulação da crença como objeto simbólico de ascensão e manutenção do poder.
Até onde se pode usar a religião para fazer política? No Brasil, a resposta pode ser não tem limites. Há uma presença intensa de lideranças políticas saídas das fileiras dos bancos das igrejas. Também, há os que fazem da fé um trampolim para o poder. Neste país, a religiosidade está associada à construção do Estado, a formação e definição do poder, a sua justificativa e intensidade.
É só observarmos a história da formação do Estado no Brasil, a relação íntima entre a autoridade governamental e a religião cristã católica. O cristianismo deu nome aos lugares e marca o calendário do país. O padroado foi marca da monarquia brasileira (1822 a 1889), a subordinação da Igreja ao poder. Uma herança ibérica de ter no clero católico uma extensão da representação do Estado.
Esta prática também serviu para se desafiar o poder. Na Primeira República os movimentos messiânicos se multiplicaram. A luta contra a opressão, miséria, autoridade estabelecida, tendo na liderança um religioso, um beato e mesmo um padre. Muitos dos movimentos separatistas da história brasileira estavam ligados à igreja ou a seus membros.
A emergência das igrejas presbiterianas, evangélicas, pentecostais ou neopentecostais não mudaram o ambiente. O poder se expressa no altar e em meio aos fiéis. Pregar no tempo ou no parlamento com a Bíblia na mão é prática comum. Em um período eleitoral, um ato constante. Em nome de Deus é frase de convencimento. O líder esta abençoado pela divindade. Quem não está ao seu lado vai para as profundezas do “inferno”.
O que o beato Antônio Conselheiro pregou em Canudos, no início da Primeira República, da “terra santa” ao governo do Satanás, ainda continua sendo retórica. Por que não mudou? A resposta é intrigante, mas traz uma contradição. Podemos resumir em “ignorância” e “fé”. Uma mistura perigosa. A primeira é um problema crônico da falta de instrução e desconhecimento dos reais fatores que geram os problemas no país. Já na segunda questão, a fé, a formação cultural que dá a lógica religiosa, de ampla penetração e impregnada na vida dos brasileiros, um acalento, um sentimento de certeza diante do medo e da insegurança.
A lógica de Maquiavel, em sua obra, “O Príncipe”, dá contornos da serventia da fé ao poder, o medo e a legitimidade do governante. Manipular a crença de forma lógica a favor da autoridade estabelecida é um bom instrumento de permanência.
Já, em Comte, ou Durkheim, a mecânica social precisa depositar nas crenças místicas sua insegurança e dúvidas. A ética religiosa estimula ao comportamento disciplina e a resignação. Em Nietzsche, jogamos na religião o peso da existência insegura, uma busca de ter domínio sobre a natureza humana, o medo.
A religiosidade e a política faz parte de nossa história. Tentamos superar nossos problemas, atingir nossos interesses, estabelecer uma vida em sociedade com a política. A religiosidade se mistura a estas necessidades. Nada mais comum de ter fé e poder associados, é um legado da história humana. Mas a racionalidade é um elemento que não se pode esquecer. Um elemento fundamental de nossa civilização na busca de superar nossos problemas. A fé não resolve nossos dilemas, a ação assim. Principalmente o ato racional e lógico. Deus não pode ser responsabilizado por isso.
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