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Ética dos bons pais e a infantilização dos adultos

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Quando a emancipação não acontece

Qual seria a ética dos bons pais? Essa é uma pergunta que, embora pareça simples, revela um dilema profundo. O que é ser um bom pai ou uma boa mãe quando o filho cresce? Quando ele chega à idade adulta e, naturalmente, deveria seguir o próprio caminho? Em tese, a emancipação é o destino natural de todo ser humano. No entanto, a realidade contemporânea mostra um quadro bem diferente.

Uma pesquisa do Ibope Kantar Media, feita em 2023 com dados entre 2012 e 2022, revela que aumentou 137% o número de pessoas entre 25 e 34 anos que ainda moram com os pais. São adultos formados, com trabalho, mas que não romperam o cordão umbilical doméstico.

A dependência disfarçada de necessidade

Costuma-se justificar essa permanência em casa como uma consequência do desemprego. Mas os dados mostram que não é bem assim. Muitos desses jovens têm renda própria, ainda que limitada. O problema é que, com o que ganham, não conseguem sustentar o desejado estilo de vida. Afinal, a vida independente se ajoelha diante dos desejos de consumo.

E nem sempre o objetivo é poupar ou se preparar para o futuro. Quase nunca é. O que se observa é uma busca por conforto — a segurança de viver sob o teto dos pais, sem enfrentar plenamente as consequências do próprio custo de vida. Ser adulto pela manhã, na festa da madrugada e ter a certeza de voltar ao “berço” na hora de dormir.

Afinal, em um país onde metade da população está endividada e 73% das pessoas gastam mais do que ganham, não é difícil entender o fenômeno. Entre os mais jovens, o desequilíbrio financeiro é ainda maior. Morar com os pais se torna uma forma de adiar o enfrentamento da realidade adulta.

A falsa emancipação

Há também outro tipo de relação que mascara a dependência: aquela em que os pais bancam a “independência” dos filhos. O jovem mora sozinho, tem seu próprio endereço, mas quem paga as contas continua sendo o mesmo bolso de sempre.

Essa aparência de autonomia, na prática, só reforça a infantilização. Cria-se uma geração de adultos que vivem como adolescentes tardios — com liberdade de escolha, mas sem as responsabilidades que a sustentam. O ser humano que paga pelas suas escolhas não é o mesmo que escolhe sem risco.

A infância prolongada

Essa infantilização é perceptível. A “criança” continua existindo, mesmo quando o corpo envelhece. Mora com os pais ou é sustentada à distância, mas continua emocionalmente no berço, cercada de conforto e proteção.

A ética dos bons pais, portanto, talvez não esteja apenas em cuidar, mas em saber libertar. Em permitir que os filhos sintam o peso — e também a leveza— da própria existência. Porque sem responsabilidade não há maturidade, e sem maturidade, a sociedade inteira permanece num estado de infância coletiva.

É esta infância coletiva que tem afetado o mundo da educação, do trabalho e da vida pessoal. A superficialidade de um ser humano que não é capaz de assumir a si mesmo compromete o nível das relações em que está envolvido. Todos acabamos pagando caro por isso.

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