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Desta vida nada se leva

Realmente, desta vida nada se leva. A gente se lança nesse mundo para procurar o reconhecimento alheio. Queremos o elogio. Ser considerado o asserto diante de todos. Queremos que nos vejam como o caminho a ser seguido. Contudo, a maioria de nós esconde as falhas para divulgar as virtudes enlatadas e expostas como objetos de compra. 

A verdade de uma vida, os nossos limites e erros, enterramos. Mas eles brotam da terra que deixa a planta de nossas memórias. Quem vive depois de nós se lembra de quem fomos, os mais íntimos não esquecem de nossas contradições entre o que pregamos e quem éramos na intimidade. A fachada não tem que ser mantida quando o interessado vai desta vida para outra. 

As brigas familiares por herança são as que mais recheiam o repertório da demagogia cotidiana. Os ilustres moralistas demonstram a imoralidade de suas criações quando suas próprias crias se digladiam pelo quinhão do que interessava do morto, as coisas que tinha. Não haverá lembrança que não sejam os bens materiais herdados. O falecido se desfaz na memória quando o último tostão sai do bolso do último herdeiro. 

Podemos deixar algo maior do que a materialidade. Sim, nossa contribuição com algo permanente, que tenha significado para outras pessoas. O que possibilite soluções e demonstre caminhos que vão além do egoísmo de uma vida pessoal. Tem muitos que deixam legados imortais. Os importantes são construídos por aqueles que permanecem no anonimato. Não querem nada em troca. 

As maiores heranças são feitas no trato do dia a dia, na convivência com respeito e na ação voltada a atender ao outro mais do que nós mesmos. Há inúmeras maneiras de agir para o próximo. Ser mais que uma passagem na vida, ser construtor de uma obra. Deixar como herança um legado.

No mundo corporativo é possível deixar um legado. Construir um empreendimento que vá além da simples objetividade do lucro. A mera busca de recompensa material diante da função social que as empresas exercem não pode ser o único fundamento do negócio. Se cumprirmos um papel na sociedade, temos a possibilidade de deixar algo que não seja perene como a materialidade. 

Dar sentido ao empreendimento é demonstrar constantemente que o que reúne as pessoas vai além da medida mesquinha. Pessoas são muitas vezes um parâmetro pequeno para algo maior que se deseja construir. Se algo que deixa uma herança impossível de se dividir, de se perder, de se esquecer. E não será materialmente que você vai medi-la, ela sobreviverá além de você.

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