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Quem pensou a 20 dias atrás que estávamos vivendo uma redução do número de casos e que teríamos em breve uma vacina que chegaria com a pandemia entrando em controle, agora vê crescer de forma absurda os números. Estamos nos aproximando de uma média móvel de casos com números de pico, que tivemos em junho a agosto. Chegamos a quase 182 mil mortos. A média móvel de casos chega a 651.
O final de ano é tradicionalmente um período marcado por festas e reencontros. Este ano, exatamente neste período, estamos tendo um crescimento do número de casos. Quantos vão conseguir se manter sob controle e evitar aglomerações, contato físico em um momento que temos que ter distanciamento?
Passamos mais de 8 meses com medidas restritivas por causa da pandemia. A grande maioria de nós já não suporta mais. Casos de ansiedade crescem, assim como as consequências que a pandemia apresenta para o conjunto da sociedade. Um efeito sistêmico, que impregna em diversos segmentos da sociedade.
Já comentei inúmeras vezes como esta crise faz emergir o melhor e o pior de nós. As contradições dos seres humanos. Nosso lado agressivo, nossa perda de senso de respeito a condição social que vivemos. Fugimos da realidade. Mergulhamos na nossa vontade e queremos realizá-la para nos sentirmos vivos, ironicamente abrindo espaço para a morte. Quantos se negam a enxergar a proporção que a pandemia ganhou e insiste em não ver e viver sua vida como se nada estivesse acontecendo.
Agora, inevitavelmente, uma grande parte das pessoas viu a Covid-19 chegar em quem está cada vez mais perto. Pessoas do nosso círculo de amizade, parentes distantes ou próximos, colegas de trabalho, já relatam casos. Infelizmente, aumenta o número de mortos e por consequência, das pessoas mais próximas que choram a perda e sentem diretamente a ausência.
A resposta mais eficiente para reduzir a contaminação não está nas medidas governamentais, nos decretos e ações do poder público. Sempre esteve na reação da sociedade. Na forma como ela se movimenta através das particularidades que nos cercam. Os estímulos individuais, os desejos pessoais e a sensação de prioridade pessoal diante da coletividade já nos acompanham há um bom tempo.
Não estamos vivendo na sociedade agrária ou na sociedade urbana que teve os efeitos da industrialização. Nestas sociedades o sentimento de coletividade sempre foi mais elevado. A percepção da importância da condição coletiva sempre nos foi demonstrada todos os dias. Desde criança se percebia que não se poderia produzir a vida sem a participação de outras pessoas. Tudo o que para nós desapareceu das vistas, o outro.
As pessoas nos servem como uso pessoal e não como uma percepção coletiva. Não temos respeito pelo outro por sua função necessária a nossa vida. Gostamos de alguém quando nos interessa explorar a condição para nos satisfazer de forma imediata. Esta é a percepção mais aguçada do que estamos vivendo agora.
Diante disso, é cada vez mais difícil uma solução que venha da ordem social por si mesma. Da mudança do comportamento da sociedade absorvendo o problema e entendendo a dimensão coletiva do que estamos envolvidos. Neste sentido, o Estado acaba assumindo o papel de forçar o comportamento necessário com medidas restritivas.
Já temos um excesso de leis que demonstra o como somos pouco vinculados ao respeito à convivência coletiva. E precisamos cada vez mais delas para conter nossos sentimentos de infantilidade traduzidos comportamentos de desrespeito a vida e na quantidade de infectados e mortos. O espelho social está expresso na imagem traduzida em números da pandemia. Nos espantamos com nosso próprio retrato.
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