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As pessoas não percebem que o fator determinante de sua permanência não é a condição técnica, sua habilidade com os procedimentos dentro da empresa ou na vida pessoal, mas sim a capacidade de se relacionar.
Na vida não é diferente. Nós queremos pessoas que sejam capazes de conviver em um ambiente hostil. E acredite, os ambientes hostis existem. Não são poucas e atormentam muita gente.
Aprender um ofício pode te dar bons resultados, ter a competência de executar uma tarefa com capacidade é um mérito e tem que ser reconhecido. Aprender a conviver com outras pessoas, respeitá-las e entender o quanto elas são necessárias, este é um potencial raro na atualidade.
As pessoas estão ficando mais frágeis diante da adversidade. Diria, infantis. Elas estão limitadas na tolerância e com pouca resistência a contrariedade. Não por acaso, são capazes de reagir de forma agressiva ou desesperadora por muita pouca coisa.
O ser humano está mais infantil e solitário. Por mais que rodeado de pessoas, ele não as enxerga. A liberdade que aparentemente está a sua volta, o sufoca. Cheias de opções e possibilidades, as pessoas estão ficando paralisadas. Elas não sabem o que fazer diante de tantas escolhas e as mais variadas opções.
Uma das formas de expressão deste estado é a depressão, ela atinge muitos brasileiros. Hoje, segundo levantamento da Pesquisa Vigitel, com dados de 2021, 11,3% das pessoas no país estão diagnosticadas com depressão. E os números vem piorando.
Um levantamento feito pelo Ministério da Saúde, nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, com 27.093 pessoas, mostra que mais de 10% das pessoas sofrem de depressão. A maioria, segundo a pesquisa, mulheres (14,7%), 7,3% apresentam esta condição.
Veja, pessoas jovens são diagnosticadas com o problema, entre 18 a 39 anos. O que está por de trás disso?
Considero que o excesso de escolha alimenta uma depressão sobre um mundo sem sentido. Por não sabermos quem somos e o que desejamos, vivemos ao sabor do que nos é oferecido. Hoje são vendidas propostas de vida junto com os bens e serviços de consumo.
Se transformou em sensação momentânea o que antes era uma escolha para uma vida toda. O relacionamento amoroso, a vida profissional, a escolha em ter filhos, tudo passa a ser escolhido e sustentado com as sensações imediatas.
Bombardeamos o “eu” empoderado sem lhe permitir construir um sentido de existência sólido. Classificamos os seres humanos através da generalização de condutas sem compreender os reais fundamentos de suas ações.
Há uma busca por aceitação como se a “validação do mercado” fosse o sentido para a viver. Queremos compensar o vazio existencial com slogans e produtos que prometem “mudar a nossa vida”, mas não saímos do lugar. Nos negamos ou fugimos de nos conhecer e reconhecer.
Logo, os índices de depressão apresentados aqui têm fundamento. Digo mais, há mais pessoas neste estado que não admitem que estejam deprimidas. Tem gente por aí a busca de um sentido existencial nas prateleiras dos mercados. Isso não é bom. A compra de um sabão em pó não me dá um manual de existência.
Precisamos tirar o foco das pessoas do excesso de escolhas superficiais, compreender que a vida é mais do que isso. Necessitamos gerar ambientes e relações que permitam a construção de uma consciência maior de si e dos outros. Temos que admitir diferenças, limites e desenvolver potenciais. Contudo, fazer isso de forma humana e profunda, não artificial e falso-milagreira como se oferece nos anúncios na mídia.
Afirmo, o ambiente de trabalho pode ser um espaço vital neste sentido. Ele pode ser mais acolhedor e menos agressor. E quando falo “acolhedor”, não estou falando que devemos transformar as empresas em locais de filantropia. As empresas precisam de resultados. Contudo, os resultados devem ser duradouros e crescentes, sólidos e que estejam dentro de um planejamento de coesão dos grupos de trabalho.
Trabalho deve ter significado, não deve ser uma promessa. Não se engaja funcionários com encantamento. Não se tem convergência com alucinação anestésica. Excitar para trabalhar não é tratar um colaborar com um cão impulsionado pelo pedaço de carne eternamente pendurado a sua frente. E fazer a jornada conhecendo e se reconhecendo as pessoas envolvidas.
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