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O país está dividido? Estamos diante de um antagonismo de ideias que ameaçam a unidade nacional? Por que os debates estão tão calorosos no país ultimamente?
Para todas estas questões há respostas e elas não são afirmativas e necessitam de uma reflexão mais profunda. O que neste país tem sido algo raro. Se aborta a história e o contexto com uma facilidade incrível.
Quando falo de aborto da história e da contextualização, estou me referindo que não estamos nesta condição por acaso. Não vivemos o que estamos vivendo por um “desastre da natureza”. O que acontece com o país é uma construção que se fez com decisões que não se resumem em um curto espaço de tempo.
O curto espaço de tempo, vale lembrar, não são os últimos 20 ou 30 anos, são séculos. Esta história de viver o hoje me cansa por isso. Há uma desconsideração com nossa origem formadora. Temos heranças. Como historiador considero uma barbárie o que estão fazendo com a discussão do presente.
O país não está dividido. Se há uma divisão ela é de uma superficialidade no seu debate. A discussão dos problemas nacionais merece mais respeito do que está se dando. Se busca culpados no lugar errado. Dizer que a corrupção começou com o governo “X” ou “Y” é um exemplo. O aproveitamento dos recursos públicos para interesse próprio é antigo. Remonta nossa formação. Se fosse algo específico de um governo, não teríamos tantos interessados em entrar na vida pública.
A grande maioria dos homens públicos enriquecem ingressando na política e sendo bem-sucedidos em sua intenção. O Estado, no Brasil, é o maior sócio para o sucesso de empreendimentos. Seja fornecendo capital ou isentando, subsidiando ou não tratando todos da mesma forma. Muitas empresas só conseguiram o sucesso que tem graças ao Estado. Por isso, homens públicos são ajudados e ajudam de forma ilícita seus sócios.
Não acredito também que estamos em um antagonismo de ideias. Na prática, poucos estão habilitados para discutir de forma profunda um projeto para o país. Conhecer do que se fala com razão lógica é algo raro. Parte considerável dos mesmos eleitores que colocaram Lula e sua turma no poder também votaram em Bolsonaro. Mudaram querendo a mesma coisa. O poder em si não explica o que se quer com ele. Onde falta conhecimento ideológico e lógico por parte da população, qualquer discussão é burra. Não estamos divididos e sim unidos pela ignorância.
Os extremismos das posições são constantes. E não se trata de uma visão diferente de um mesmo problema, na maioria dos casos. O que se tem é a confusão entre a crença cega e o entendimento lógico. Não é uma posição radical de mudança diante da força do opositor. O que se tem é uma limitação das partes que por terem pouco repertório em seus argumentos radicalizam e gritam para não ouvir o outro. Se fazer valer a força e sem razão. “Uma violência doméstica na política”.
Por isso, como diz Platão, um dos pais da filosofia ocidental, “não há o que temer quando uma criança tem medo do escuro e sim quando um adulto teme a luz do dia”. Se temos algo com nos preocupar é a ignorância generalizada. Alex de Tocqueville, ao analisar a democracia norte-americana, já apontava para os riscos de uma democracia em que a mediocridade tem a maioria dos votos. Pior é quando os líderes escolhidos acompanham o nível intelectual da massa que governam.
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