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Banalização da dor

Estamos indignados de uma semana difícil. Como convivemos com tragédias na última semana. De massacre a uma mesquita, com 60 mortes a o massacre na escola em Suzano, com 10. Fora isso, a queda de um avião na Etiópia nos dá a dimensão da proporção de mortes em tão pouco tempo. Mas, sempre lembrando, estas são manchetes que tomaram a imprensa mundial. A violência e acidentes corriqueiros levam muitos.

Em grande parte, o absurdo da violência tende a ser filmado, transmito nas redes sociais constantemente. As testemunhas do caos são muitas, as próprias vítimas tratam de registrar a tragédia, isto quando não o próprio executor faz transmissão ao vivo, como o massacre na Nova Zelândia, onde o “terrorista” ou serial-killer filmou todo o mal que fez. Um espetáculo dantesco que ocupa constantemente as redes sociais. Há público que se delicia com a dor, outros, mesmo indignados, saboreiam a tragédia.

Porém, a particularidade sentida nas redes sociais, o desprendimento com a dor alheia e os fatores que geram a agressão nos toma.

Retratar a violência desta forma, filmar acidentes e assassinatos, compartilhar nas páginas sociais, não acrescenta em nada para a superação do problema. Temo a banalidade que isto pode gerar. A forma de entender a tragédia como uma constante e que nos traz mais diversão e entretenimento do que a reflexão sobre a dimensão da violência ou riscos da vida humana. Se queremos sensibilizar ao filmar a dor, podemos dar o efeito anestésico e colocá-la na banalidade.

Precisamos ter mais critério para lidar com a vida. Convivemos todos os dias com outras pessoas. Precisamos entender que nossa vida é construída coletivamente, na condição em que nada se pode sozinho. Porém, a particularidade sentida nas redes sociais, o desprendimento com a dor alheia e os fatores que geram a agressão nos toma. Ilusão imediata de que estamos sós. Aquele sentimento de que a tragédia não tem na haver com nossas vidas. Ilusão. Tem!

Estamos ligados diretamente com uma cadeia de dependência coletiva, em nossa vida urbana. Vivemos na dependência de muitos. Nossa vida, mesmo que em sua privacidade mais extrema, é uma ogra das relações sociais complexas, de muitos. O meio de comunicação digital intensificou contatos, mas particularizou a lógica da comunicação. O interesse pessoal se impõe sobre a comunicação. A prioridade, pela facilidade dos meios de se comunicar, determinada pelo “eu” é o critério para selecionar o interesse e tema de qualquer diálogo ou comunicação.

Desta forma, a tragédia ganha contornos de espetáculo nas redes sociais. A liberdade tem destas coisas? Tem, mas nem sempre isso traz o lado bom da intenção. Aprendermos a respeitar a dor alheia é fundamental. Evitar expor os seres humanos é fundamental. Não somos detentores da verdade. Nossa lógica particular é frágil, pode estar errada, ou se sustentar em lógicas torpes.

É lamentável saber que o interesse particular possa promover tantos estragos, expor tantas pessoas. Tanto quanto os que promovem chacinas, matam muitos, os expositores da tragédia também executam inocentes e fazem ter que viver e reviver a dor inúmeras vezes, uma forma de matar a dignidade, tão dolorosa, às vezes, como eliminar a própria vida.

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