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Quando era pequeno, na porta da cozinha tinha fixado um calendário. A foto que o ilustrava era de Jesus Cristo, loiro e de olhos azuis. Ele era a estética perfeita ocidental, mas na escola aprendia que o estereótipo do homem do oriente médio, principalmente um palestino, era bem longe daquilo. Mas, o que importa não é a aparência se na essência Cristo era o máximo.
Claro que depois descobri que aquele cristo tinha sido feito à imagem e semelhança dos sonhos de quem o idealizou. Sua aparência ocidentalizada era mais uma intenção do que a expressão da realidade.
Descobri também que várias imagens que povoavam os livros de história eram fantasias construídas. A pintura dos bandeirantes, D. Pedro I proclamando a independência, enforcamento de Tiradentes e inúmeras outras seguiam a mesma tendência do Cristo na parede da minha infância. Pura propaganda estética.
Um dia imaginei que a ilusão estética fosse um mal. Que iria acabar. Acreditava que em determinado momento, a maturidade passaria a demonstrar que não podemos nos deixar levar pela aparência, devemos entender a essência. A partir daí o valor das pessoas e lugares podem ser analisados, interpretados e valorizados com mais coerência. Me enganei.
O tempo passou e as pessoas passaram a amar cada vez mais a ilusão. A imagem que um dia vi no calendário na cozinha e as inúmeras nos livros de história se multiplicaram. Com a internet e as páginas sociais percebi que todos amam fugir da realidade e desejar profundamente negar a verdade sobre si mesmos.
Logo, vivemos a “disfunção simbólica”, ou seja, tudo o que se vê não é. A realidade se fantasia e foge das nossas vistas. Saber como as pessoas são e o que realmente é o que se está vendo virou uma obra exaustante. Uma regra que contraria o que aprendi desde criança.
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