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Você sabe o que é viver a sobra de Deus?
Não é tarefa fácil estar condenado a inferioridade por aqueles que te pariram no mundo. Os que te deram vida te condenam a ficar em “seu lugar”, ser um predestinado.
O difícil de entender é que no princípio de tudo, Deus e eu éramos iguais. Vivíamos lado a lado. Te confesso, era divertido conviver com ele. Brincamos de bola juntos, corremos, pulamos, também nos sujamos nas valetas de lama. Imagina, Deus e eu.
Com o tempo, “eles” puxaram Deus para cima, ele foi colocado muito longe, inalcançável com as mãos. Não podia mais tocá-lo. Agora ele estava distante demais. O pior, é que Deus gostou e saboreou o exercício da superioridade.
Dia destes, estava conversando com Deus. Coisa rara, porque a gente perde o jeito da conversa e ele já não fala mais das coisas que a gente falava. Imagina, jogar conversa fora com Deus? Nem pensar.
Mas, em um raro momento de lembrança do começo, Deus falou para mim que tinha saudade do tempo em que éramos iguais. Em que ele poderia errar tranquilamente, poderia chorar como qualquer outro, poderia ter medo e fazer o que o coração mandasse.
Falei também da minha saudade, de que tinha vontade de brincar com Deus, lhe “pregar umas peças” e, lembrei, até das valetas de lama.
A conversa acabou quando ele me lembrou de que isso não são coisas de Deus e sim dos seres humanos, fadados a perecer, a morrer, a se acabar, a virar lembrança como um pó que se bate nos ombros e se esquece. Ele, Deus, ficaria.
Logo conclui que estava envelhecendo e Deus não. Ele alcançou a eternidade e eu apenas vivia minha vida, curta ou longa, mas finita. Ele se transformou no princípio e no fim. Eu caminhava para o final.
Quando estava saindo, já havia me despedido, Ele me chamou e disse: “ser Deus não é fácil!” Eu sorri, e retruquei, “ficar a sua sombra, também não é!”.
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