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Meus alunos, inicialmente, é uma honra estar aqui com vocês. Nossa aula de hoje é sobre o pensamento filosófico cristão, o cristianismo que se transformou na maior identidade cultural da civilização ocidental e, até hoje, é para o ocidente e para os desdobramentos que a civilização ocidental promoveu ao longo de sua expansão, uma referência de ação, conduta e ética.
O que não significa efetivamente que as pessoas que vivem, na civilização ocidental ou que vivem os territórios de sua expansão, é o caso da América colonizada pelas nações européias, ser cristão enquanto fé, crença, enquanto uma verdade para si.
Mas muito do que se institucionalizou no mundo ocidental, está ligado diretamente ao cristianismo. Por isso, entender o pensamento cristão é fundamental para entendermos a conduta, a ação e a perspectiva do ser humano dentro do ocidente.
Para começarmos a falar sobre o cristianismo, é importante entender que é o ser cristão, o pensamento cristão, a conduta cristã. Ela é um desdobramento da pregação de Jesus Cristo, um hebreu que se transforma em elemento “indesejado” dentro do Império romano. Ao ponto de ser perseguido por suas palavras, suas condutas, suas ações,
O cristianismo que sai do Oriente Médio e tem sua pregação propagada pela Europa, é fruto de um contexto histórico que se faz necessário entender. Se faz relevante entender a existência de um Império Romano universal e que teve a capilaridade, pela sua própria estrutura, de ser ambiente da propagação e universalização do cristianismo.
Então, podemos dizer que o cristianismo de certa forma, ganhou a proporção, dimensão e influência que ganhou, devido ao Império Romano.
Esta estrutura a onde o cristianismo se desenvolve e penetra dentro de seus espaços, ganhando força na perspectiva de unir, universalizar, de criar um princípio comum para os seres humanos subordinados ao Império.
Quem será um dos grandes responsáveis por esta propagação são uma série de pensadores Eles foram fundamentais para a conversão e propagação da lógica cristã. São Paulo, Santo Ambrósio e, principalmente, Santo Agostinho.
Mas eu queria destacar aqui, para um início de conversa, a figura de São Paulo, que foi um soldado Romano, perseguiu os cristãos e, por fim,se converteu ao cristianismo.
Paulo foi aquele que tem em sua trajetória pessoal o próprio exemplo da negação e conversão. Ele considerava necessário que o cristianismo deveria se propagar, deveria se universalizar, ser inclusivo e ir além de uma religião hebraica, Ou seja, o cristianismo era uma religião de todos os seres humanos, gerando uma unidade de lógica expansionista.
Paulo passa a agir na prática, a exercitar o ato de expansão cristã. Ou seja, é uma necessidade para Paulo de que o cristianismo seja o elemento comum que unifique a humanidade. Está lógica está escrita nas epístolas que fazem parte da Bíblia. A onde Paulo vai, através de uma série de mensagens, demonstrar a necessidade, a importância da vida cristã, suas experiências.
Cristo se torna um modelo de ação para os seres desse mundo. Contudo, mais do que isso, através Paulo, se inaugura, de certa forma, a busca de compreensão do ser humano como obra, como criação.
Esse ser humano deve em sua conduta, buscar compreender, agir, ter como busca e se medir naquilo que Cristo efetivamente fez. Por isso, o evangelho ganha uma perspectiva significativa dentro das sagradas escrituras, na Bíblia.
Esta Bíblia que tem dois tempos, o Velho Testamento, o Torá, o qual apresenta o cristianismo como uma continuação, um desdobramento da religião judaica. E o Evangelho, que cria todo o elemento de reinterpretação dessa mesma lógica divina com a universalização cristã.
Então é importante entender que há uma cisão. Inclusive alguns pensadores consideram que uma contradição, uma revisão, para os mais moderados. Já, para os mais radicais é uma ruptura entre o velho e o novo testamento, uma nova percepção de Deus.
O novo testamento prega um Deus compreensivo, um Deus universalista, um Deus de conduta ética, um Deus de bondade, um Deus de ágape, o amor de Aristóteles. O amor que se dá sem nada em troca; Já o Deus hebreu, o Deus do velho testamento, que é uma entidade regional. Identificado com um determinado povo, uma determinada civilização e diante de um mundo de contrariedades Os opositores, os outros povos que o negam.
O Deus do velho testamento é combativo, um Deus de ação firme, de ação dura, de uma moral, a qual deve ser cumprida sobre a pena de uma punição severa. Então, há uma força muito grande da ação repressiva no velho testamento e é uma força muito grande da ação compreensiva no novo testamento.
E quando se fala do pensamento cristão que vai se consolidar na Europa, estamos falando principalmente do pensamento cristão revisado e alinhado ao que os tempos de decadência romana exigem, uma universalização da conduta para se consolidar a permanência. Por isso, Cristo se torna um princípio de conduta.
A Bíblia se transforma em documento sacro absoluto. Organizada e editada dentro da autoridade romana que a legitima após séculos de perseguição. Enfim, a verdade está na Bíblia, no Evangelho em especial e na figura de Cristo como um “divisor de águas” para o ser humano.
Há a necessidade de percepção do elemento Divino, uma delas, é fundamental, Deus está separado de sua criação. Como criador, ele é uma inteligência, um ser, uma pessoa, separada de sua criação. Deus não está nas coisas, como o Deus de Espinosa com panteísmo.
Para o pensamento cristão, Deus está apartado da sua criação, e da qual sua intenção de nossa existência é a busca de compreensão de sua lógica. Estamos neste mundo diante do que nos reserva as intenções e intervenções do criador. Há uma inteligência que nos cria, e nos conduz. Porém, qual a intenção do Criador? Esta é a grande questão que cabe a nós buscarmos, segundo o pensamento cristão.
No pensamento inaugurado por Paulo, o ser humano deve entender que a expressão das coisas no mundo da matéria está como consequência e não causa. Não é aqui, neste mundo, que teremos a resposta do sentido do que existe. E o primeiro grande desafio de existir está na própria capacidade do ser humano de dominar os seus impulsos.
O próprio ser humano em si como matéria, como corpo, como carne, é simples condição de vida. O corpo é invólucro, apenas a embalagem, vamos dizer assim, de um espírito no repousa. São em si, na existência, dois elementos importantes e interligados, corpo e alma, porém separados. Um se consome e o outro eterno.
Sendo assim, há no mundo as condições para que o espírito se eleve diante das provações. Aquelas que vem da matéria e desafiam o ser humano. Sendo o ser humano o elemento de inteligência, deve em sua existência buscar a verdade.
O mundo em si é condição gerada para a finalidade, o aprimoramento da alma. Mundo este regido pelas leis divinas e que aqueles que se colocam nesta vida devem ao propósito do criador sua existência. Logo, Deus é o criador de todas as coisas. E “filhos” são o elemento que dele surgem com a vida que lhe foram atribuídas, por isso a concepção de “pai”.
O filho, a alma do mundo, o Cristo, existe como o sentido, o modelo, a condição de ser, o fator e determinação da existência. Por isso, Cristo é aquele que veio para ser a alma do mundo. Então, se coloca aqui um outro elemento, a Santíssima Trindade, a inteligência neste mundo.
O Pai aqui, é o criador do mundo, o filho, que é o ser que dá a alma sentido a esse mundo, e o Espírito Santo, que é da inteligência presente nesse ao mundo. O ser humano, enquanto espírito, é adotado dessa inteligência.
O que é importante nessa concepção é de que o ser humano deve em si entender que sendo criatura não se nega a criação. Sendo criatura que se inspira no criador, se busca a verdade nele, se reproduz o valor que o criador tem, o supremo bem.
Por isso que a alma humana, ela é um elemento fundamental de superioridade sobre a carne. Contudo, nós somos tomados pelos males que afetam a carne. Os males do mundo estão na matéria e nas coisas que nos provam este mundo material.
O mal do mundo está nos prazeres que buscamos relacionados aos desejos das coisas da aparência. O mal do mundo está na vaidade, na inveja, no excessivo prazer carnal do qual somos provados constantemente.
A alma deve dominar esse corpo e Cristo é o exemplo talvez mais significativo, mais intenso, mais profundo, de como a alma domina o corpo. Em sua existência, não se deixou levar pelos prazeres materiais e por todas as provações. A alma, o espírito, alinhado com os princípios divinos determina a condução do corpo na vida, superando todas as suas provações. E as lições que Cristo deixou se impõe como referência em todas as práticas.
Desta forma, o pensamento cristão estabelece a possibilidade do ser perfeito. Ele não se deixa levar em hipótese alguma pelos prazeres, pelas coisas materiais, para as coisas deste mundo.
Aqui, Santo Agostinho de Hipona, fundador da patrística, será o pensador que estabelecerá o elo fundamental entre a doutrina cristã e o pensamento filosófico grego, em especial a lógica Platônica.
Agostinho apresentará a ideia fundamental de que o humano deve estar sempre atento a este mundo de aparências. Santo Agostinho resgata Platão na lógica cristã, esse esse homem está nesse mundo de aparência, esse homem está no mundo sensível, que Platão considerava que não representa a verdade.
Para Santo Agostinho, na busca de Deus, na reflexão sobre esse mundo, na reflexão das coisas, naquilo que está nessa existência material, deve-se buscar a intenção de Deus. No mundo das provas, para compreender o que realmente move nossas vidas, há os sinais que devem ser compreendidos.
Santo Agostinho, em sua obra “Cidade de Deus”, define a existência destes dois mundos, o mundo ou tempo de Deus e o mundo e o tempo dos homens. O primeiro eterno e o segundo finito. O primeiro é determinante do segundo. Nele está a essência da existência, as coisas como são e que refletem no mundo dos seres humanos a sua lógica e intenção.
Existe aqui o fator importante da determinação do porquê existir nesse mundo. Santo Agostinho, defende que esse mundo material é enganoso. Esta existência humana é, de certa maneira, a reprodução de maneira invertida da Cidade de Deus. Se na primeira há santidade, na segunda há o pecado. Se na primeira há a perfeição, na segunda, reina a imperfeição.
Enquanto o tempo de Deus é eterno com tudo o desse nosso mundo é finito. Finito para cada um de nós em seu próprio tempo, cada ser humano em sua própria vida, cada ser humano em sua própria vida. Também é finito para a espécie humana, para o ser humano na Terra. Por isso, há uma gênese e há um apocalipse. Final da vida humana na Terra.
A criação logo, tem o princípio da Justiça em sua finalidade, o morrer lhe é sinal de que o tempo lhe é contato. Sendo assim, para cada um há um papel a desempenhar sobre sua conduta. Esta condição de finitude da terra demonstra que nascemos com o pecado original.
O ser humano nasce em pecado, pois dele veio, segundo Santo Agostinho, o ser humano rompe seu pacto com Deus. O pecado de Adão e Eva se estende por todos. Por isso, a finitude e o sacrifício de viver as necessidades da carne recai sobre cada ser humano que deve recuperar por si o merecimento de retorno à cidade de Deus.
De certa maneira, o existir implica e viver em um tempo marcado pela condenação ao fim comum a todos, a morte. Desta forma, neste tempo em que vivemos iremos colher as ações que praticamos em toda a sua extensão.
Logo, há uma condição que se estabelece sobre a terra e da qual não há como se libertar. O ser humano é em si a condição de vida que lhe foi dada. Desta maneira, se considera que o que ocorre no plano terreno já está pré-determinado por Deus. Executamos aquilo que é planejado sem termos consciência do que a vida nos reserva, mas o que nos acontece será da forma que deve acontecer.
Sendo assim, o ser humano se coloca como um ser condenado a uma condição da qual não há liberdade. E se temos a sensação da escolha, se a fizermos, não afetará o destino final de cada um e aquilo que está reservado a todos os seres humanos.
Neste ponto, nesta vida, há os sinais que Deus aplica sobre o mundo na busca de alertar aos seres humanos sobre suas condutas. Neste ponto, a inteligência humana, para Agostinho, por mais que limitada, deve interpretar estes sinais e conduzir suas ações obedecendo as ordenações divinas.
A grande questão é, como podemos entender o que Deus deseja? As Sagradas Escrituras são então o conhecimento de Deus, de suas intenções. Claro que, interpretadas por aqueles que foram os escolhidos e são condutores, propagadores e intérpretes desta verdade.
Assim, se apresenta a inferioridade humana diante de Deus. O ser pequeno, que não terá jamais como entendê-lo em sua plenitude, mas deve buscá-lo pela fé. Crer de maneira incontestável. Só assim o ser humano, para Agostinho, terá a percepção da verdade.
Para Santo Agostinho, existe o fator determinante, que é a fé, é o fator primeiro da salvação. Pela fé se terá a elevação, e se desvendará o melhor possível a verdade de Deus.
Então, onde está a verdade? A verdade está na capacidade que nós temos de viver nesse mundo, vivendo e estabelecendo uma conduta que vá além dela. Agirmos sem nos deixar levar pelas aparências da vida. Logo, o que pode parecer justo aos seres humanos pode não ser a justiça divina, para Agostinho.
Nesse ponto, Santo Agostinho era incisivo, o ser humano que tem potência, que tem poder, que em si é a obra mais perfeita do criador, está muito distante, muito longe, de se equiparar ao seu Criador, e de se aproximar do que Deus é. Em analogia, a distância do ser humano em relação a Deus é o equivalente de um cão a um ser humano.
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