Destaques
5 min
A fotografia, tão comum e em todos os lugares. Tirada a qualquer canto. Hoje, se volta a ocular, em um celular, e pronto, estamos registrados. Descartamos tantas. Tudo se registra. Se banaliza o que se vê, mas se tem todos os comportamentos das condições privadas, a intimidade literal. Também o que se é público está anunciado. O limite do que se é segredo e não pode estar disponível em todas as mãos.
Mas os primeiros passos da imagem fotográfica está associada a revolução. A iconografia mudou o conceito de registro, de permanência, de guardar na memória e divulgar a existência e a essência. Se foi além do que ficava na imaginação da forma. Se tornou um conceito de reprodução “fidedigna”. A fidelidade das formas congeladas de um determinado lugar ou pessoa mudou completamente o conceito da informação.
No Brasil, a fotografia fez e refez a história na segunda metade do Século XIX. Para se ter uma dimensão, no Rio de Janeiro, então capital do Império, em 1864, já haviam mais de 30 estúdios de fotografia. Um luxo, porém popular diante da pintura que atendia a tão poucos e demorava a ser produzida.
Em pouco tempo se reproduzia a imagem que se desejava eternizar. Os primeiros estúdios, preparados com um ambiente moldado ao gosto do “cliente”, tinha no fotografado o esforço de ficar “congelado” por alguns minutos para deixar o registro. Para o tempo, aquele tempo, era de uma velocidade assustadora. Nada do que se compare com a atualidade. Um difícil entendimento hoje do esforço para se registrar na foto a imagem do que se faz. Ainda mais quando qualquer momento banal de nossa vida cotidiana pode ser reproduzido em um “click”.
Mesmo na reprodução de ambientes os cenários da vida cotidiana passam a ser tema dos fotógrafos. Profissionais selecionados por uma paciência alucinante, um olhar polido, com um conhecimento de química e física ocular para tirar a foto que necessitava técnica e arte. Nesta condição, fotografar grandes obras, paisagens deslumbrantes, pessoas no ambiente. Retratos de ferrovias em obras e recém inauguradas. Relatórios de construção e edificações urbanas são registradas. Fazendas e seus senhores. Seus patrimônios. No período imperial, desumanamente e naturalmente contextual as fotos dos escravos.
Viajantes no Brasil também fizeram da fotografia a forma de registrar a passagem. O conhecimento da terra e a penetração na floresta que ainda estava por se abrir em diversas regiões do país. Na lavoura cafeeira que se expandia no sudeste é comum ter registros fotográficos da expansão agrária. Mesmo, territórios remotos passam a ser capturados pelas oculares das máquinas que foram se modernizando na segunda metade do Século XIX e início do Século XX.
Na política indigenista do Marechal Cândido Rondon em seu reconhecimento do território, seja na instalação das linhas telegráficas ou na liderança de expedições, a fotografia se fez presente. Na proteção aos nativos, fotografá-los e publicar suas imagens foi uma forma icônica de divulgar os nativos como elementos mais próximos a condição real de sua vivência. Distante das fantasias que ainda repousavam no imaginário de uma sociedade que não compreendia a dimensão da cultura nativa.
Neste mesmo período, a fotografia ganhou o texto. Acompanhada de uma descrição do fato a que se relaciona a imagem passou a dialogar com relato escrito. Trazendo para a sociedade a possibilidade de ampliar a percepção do acontecimento, ampliar a informação.
As imagens iniciaram o processo de trabalho na tonalidade. Em degradê, sem a existência do branco, mas em diversas tonalidades de cinza, as imagens passaram a estabelecer uma definição melhor de contraste. Garantia uma percepção de diferenciação de detalhes. Ainda assim, com certa diferença daquilo que registrava.
Periódicos semanários passa a investir em uma grande quantidade de imagens em suas publicações. Prender o olhar das pessoas. Despertar interesse em quem não sabia ler, mas degustava as imagens e colocava sua imaginação para funcionar.
Inúmeras charges foram criadas a partir de fotografias. O Imperador Dom Pedro II foi inúmeras vezes alvo destas fotografias retrabalhadas e colocadas em periódicos. Um documento de crítica a monarquia característico do período de crise do Império (1870 a 1889).
Não podemos esquecer que a Guerra do Paraguai (1864 a 1870) foi fotografada, imagens do conflito demonstram a violência da guerra e o momento de fortalecimento do ideário nacional e de fortalecimento da instituição militar, em especial do exército. Neste ambiente, os positivistas e personagens militares ganham força junto a população elitizada pelo acesso aos meios de comunicação pela leitura.
A efervescência da imprensa no final do Século XIX é consequência direta da decadência monárquica. A inabilidade do monarca em lidar com as mudanças e o crescente descontentamento das medidas imperiais, entre elas a decadência da escravidão, desenharam o fim do regime. A imprensa teve papel vital neste sentido. A fotografia foi condição responsável para dar mais notabilidade aos periódicos.
Cidade e os jornais de grande tiragem
O crescimento dos centros urbanos no país, na região sudeste em especial, demonstra a mudança significativa da vida das pessoas. O cotidiano do ambiente que perdurou desde o período colonial agora encontra interesses e forças sociais distintas. A vida na cidade herda muito do que as relações agrárias que formaram o Brasil. A formação de periferias se dá também pelo êxodo provocado pelo fim da escravidão e a imigração.
A busca de um planejamento urbano adequado para atender ao novo espaço urbano, Revolta da Vacina (1904), demonstra esta tensão nos primeiros anos da República Velha (1889 a 1930). O que demonstra o desconhecimento da população em relação ao que levava a contaminação da varíola e como ela deveria ser combatida. O debate sobre a higiene sanitária e a reurbanização não acabaram com o legado social da colônia.
Com uma população de um pouco mais de 500 mil habitantes, o Rio de Janeiro já tinha jornais de 150 mil tiragens. O Paiz, jornal que foi uma expressão do regime republicano mesmo antes da proclamação (1889), fundado em 1884 para fazer oposição ao império, perdurou durante a primeira república como uma expressão do pensamento liberal e conservador da elite carioca.
Nas publicações do O Paiz passaram diversos colunistas de peso. Rui Barbosa, por exemplo, dirigiu o jornal em seu princípio, Euclides da Cunha foi um dos seus colunistas célebres. O jornal avançou em busca de representar os interesses do ambiente urbano. Mas acabou por enfrentar a ira do governo que ascendeu ao poder com o golpe, chamado de “Revolução de 30”. E assim, o periódico chegou ao fim. Tendo um breve funcionamento em 1934, porém não conseguiu se manter e encerrou suas atividades.
Destaques
5 min
Comentários
3 min