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A cada dia, 50 mil mulheres são agredidas no Brasil. O número é espantoso. Não por acaso o país é um dos mais violentos do mundo em relação as mulheres.
Os excessos cometidos em relação a elas estão carregados de uma história de patriarcado que o olhar mais atento consegue entender. A violência já faz parte da nossa formação e se impregna nas condições que construímos como possibilidades para uns e não para outros ao longo do tempo.
As mulheres são uma das minorias que acabam limitadas em seu desenvolvimento na sociedade brasileira. Assim como indígenas, pretos e homoafetivos elas sofrem o peso de ser quem são em uma sociedade que não consideram dignas de respeito.
E não adianta ficarmos presos somente aos discursos de violência cometida pelos “machos alfa”. Não será no repúdio ao agressor que entenderemos a dimensão de como esta violência se constituiu.
Veja, agora estamos voltados a questão da mulher porque uma celebridade foi agredida. Ana Hickmann, apresentadora de TV sofre agressão física do marido, Alexandre Correa. A artista fez um boletim de ocorrência e quer se separar.
Mas, a atitude de Hickmann em denunciar e se separar não é o que fazem 45% das mulheres agredidas. Elas, as que livram seus agressores de punição, acreditam que vão resolver o problema por conta própria (38%) ou não confiam no aparato de segurança (21,3%).
Vale lembrar que a apresentadora tem um perfil em relação a maioria das mulheres de exceção. As que mais são agredidas são as pretas (48%) e com no máximo ensino fundamental completo (49%).
A apresentadora foi agredida pelo marido na frente do filho de 10 anos, fato comum para 44,4% das mulheres que já sofreram violência doméstica.
A apresentadora também não se encaixa na faixa de idade das que são mais agredidas, mulheres de 25 a 34 anos.
Outro dado curioso em relação as mulheres que são vítimas de violência física ou emocional é que 65,3% delas são divorciadas. Ou seja, mesmo tendo se separado do agressor elas continuam sob risco. O “macho” frustrado é vingativo e não aceita a perda do que considera ser uma posse sua.
Os dados que foram apresentados aqui são do Instituto DataFolha, em uma pesquisa encomendada pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A pesquisa foi feita em 126 cidades, entre os dias 9 e 13 de janeiro de 2023 e com mulheres acima de 16 anos.
O importante é considerarmos que a agressão não é uma construção exclusivamente da ação pensada do agressor. Ele faz sua escolha sob valores que considera necessários e naturalizados em sua mente.
A formação do agressor e do agredido está relacionado ao ambiente familiar, as relações privadas da vida desde a infância. As condições em que o convívio entre as pessoas, nos rituais diários, deixa implícito e até explícito os papéis distintos de homens e mulheres.
A chamada família “perfeita” e de caráter conservador pode estar sendo o ninho da construção de identidades estimuladas a agressão. De um lado considera que imposição masculina é natural e de outro lado determina o papel daquela que aceitar a agressão.
Logo, temos que tomar cuidado com o que alimentamos cotidianamente nas relações íntimas. Estas que não nos preocupamos muito em reproduzir e sem parar para perceber os valores que elas estão cultuando.
Desta forma, o melhor é revermos nossos hábitos e entender de onde vem a agressão na sua raiz mais profunda. E pode ser, muitas vezes, que cheguemos a conclusão que somos colaboradores, cúmplices, do que queremos combater.
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