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Você já ouviu falar de garoto rebelde? Daqueles que contrariam a tudo e a todos? Rousseau foi um destes garotos. Para falar seu nome completo, Jean-Jacques Rousseau.
O abusado, perdeu a mãe ainda criança, ficou aos cuidados do pai até a adolescência. Porém, um dia, ao caminhar nos campos em voltada da cidade de Genebra, onde morava, ficou até um pouco mais tarde, perdeu a hora além dos muros da cidade.
Ao voltar, se deparou com o portão da muralha que cercava a cidade fechado. Advinha o que ele fez? Isso mesmo que você está pensando, virou as costas, se pôs a caminhar e foi embora. Anos mais tarde voltou para visitar e ter contato com o pai.
Nas tantas paradas de Rousseau, ele acabou se envolvendo com uma dama da alta sociedade francesa, por sinal, mais velha e disposta a ter um romance com o pensador. Era o início da história de um dos maiores filósofos.
Rousseau se dedicou a conhecer pessoas e aumentar seu círculo de influência ao longo de sua vida. Acabou contratado como professor de filhos da elite francesa. Fez um tratado de música para Jean le Rond d’Alembert incluir na famosa Enciclopédia, a qual organizou junto com Diderot.
Rousseau foi brilhante, sem dúvida. Um dos maiores filósofos e um iluminista diferente. Sim, podemos chegar a considerar que o suíço não era um iluminista de “raça pura”. Suas críticas as teses de Voltaire eram uma demonstração que certos pressupostos tidos como unânimes entre os pensadores das luzes não lhe cabiam.
Uma das críticas veementes era sobre a natureza humana. O princípio do ser humano é a bondade de sua condição que se corrompe, afirma. Algo que John Locke, o percursor do iluminismo já trabalhava. Porém, Rousseau estabelece uma nova forma de compreender a natureza e a satisfação da vida sem regras. Para ele o infeliz é o civilizado.
Logo, se compararmos as sociedades onde se estabelece mínimas regras para o convívio entre as pessoas se tem uma satisfação existencial maior. A complexidade da vida na nossa sociedade, fundada em uma cadeia complexa de relações orientadas por normas, leis, nos faz infeliz.
Há uma demora entre o desejado e sua satisfação. O que desejamos e pelo qual somos obrigados a conviver com os outros. Inúmeras vezes somos forçados a abrir concessões para ter o mínimo de condição para a nossa própria. Até onde isso compensa?
Aqui há uma dualidade moral, será que o grau de renúncia é menor do que a proporção da satisfação? Se a resposta for “não”, temos um ser infeliz. Se torna necessário compreender que a existência em sociedade é uma contravenção a nossa natureza. Amarga dor de termos que nos “negar” para “ter” e “viver”.
Porém, vale voltar ao início de nossa discussão, no ser original, o mais próximo de sua condição natural. Veja, lembre-se do que se encontrou nas conquistas ocidentais pelo mundo das grandes navegações. Nela há um “bom selvagem” e um “mau civilizado”.
Sim, na mente daquele que vive subordinado por poucas regras, o bom selvagem, há uma maldade menor ou, por vezes, nem há. Já, no conquistador civilizado ocidental, o mau selvagem, a mente está carregada de más intenções. O desejo está carregado de manipulações astutas, pré-conceitos e preconceitos diante do que encontra.
Esta análise de Rousseau será um dos postulados fundamentais da Antropologia que surge como ciência quase 100 anos após o pensador suíço. Está lógica traz consigo uma concepção revolucionária sobre o conceito que se tem daqueles que não são europeus, ou os chamados civilizados…
Veja que exemplo interessante do encontro entre o “bom selvagem” e o “mal civilizado” na concepção rousseauniana:
O colonizador português desembarcou nas terras da América, naquilo que viria a se tornar o Brasil. Ao ver a mulher indígena, uma mulher originária, com sua sociedade de poucas regras e convenções. Ela estava nua e causou desejo no europeu conquistador. Ele abusou dela e lhe colocou culpa. Teria?
Logo, a questão do desejo é uma expressão do quanto estamos muitas vezes contaminados pelas regras que nos identificam neste mundo carregado de padrões de comportamento, de imposições morais que nos afasta de nossa verdadeira natureza.
Mas, aí há uma outra questão, até onde nós podemos viver felizes onde o valor moral conflita com o desejo natural? O que é da natureza sem maldade e o que é a intenção maldosa daquele que pratica o ato? Vale a pena refletir sobre estas questões.
Incrível pensar que Rousseau foi professor, se dedicou a ensinar música, filosofia, matemática a crianças e jovens. Ele mesmo teve oito filhos, um deles, Emílio lhe foi inspiração para uma de suas obras clássicas que leva o nome de seu rebento.
Mas, não pense que a maravilhosa obra de Rousseau que inspirou toda uma corrente pedagógica denominada posteriormente de Escola Nova, foi a expressão do pai atento e cuidadoso. Os filhos de Rousseau foram todos entregues a adoção. Nem Emílio escapou.
Rousseau alegou não ter condições de cria-los. Ainda mais depois que empobreceu ao romper com a senhora nobre que o sustentou por muito tempo na vida, Françoise-Louise de Warens.
Na obra sobre a educação, o pensador valoriza a liberdade da criança. Ela deve ter a escolha daquilo que deseja conhecer. Para ele, deve-se na infância estimular a especulação na infância. Fazer com que as crianças tenham o potencial de na busca do saber se encantar pela ciência e fazê-la uma resposta aos seus interesses.
Assim, para Rousseau, a educação não seria enfadonha, uma imposição de conceitos e fórmulas. Seria para ele uma satisfação a realizar na procura de superar a dúvida. Devemos ter o “espírito livre” segundo ele.
Vivemos fazendo pactos ou somos subordinados a eles. Nem percebemos, mas em todos os cantos que vamos e relações que estabelecemos há uma norma nos limitando. Somos encharcados com tantas e tantas leis, regras, estatutos e códigos que não lembramos ou temos consciência quando estamos no curso de nossa vida.
Por mais que considere um sinal de infelicidade, Rousseau não deixa de admitir a necessidade deles em uma sociedade complexa como a nossa. Logo, o acordo entre as partes deve ser, para ele, o mais próximo possível da natureza. Deve-se preservar a liberdade ao máximo. Tanto na formulação do pacto como para rompê-lo.
Um defensor árduo da democracia, Rousseau considerava que o desejo da maioria deve imperar. Uma maioria ao máximo representativa do que a sociedade efetivamente é, na sua composição e expressão. Por isso, ele foi um crítico da escravidão. Todos são iguais perante a natureza, afirma o pensador suíço.
Porém, o que diferenciava de todos os outros liberais era a consideração sobre a propriedade privada. Para Rousseau é um mal instalado pelos seres humanos e todo o fator da desigualdade. A propriedade sobre a terra, por exemplo, colocada para muitos como uma natureza ou uma naturalidade, não era um bem e sim um mal.
Há quem considere que aqui repousa uma base que irá alimentar o socialismo utópico, o que não é de todo um erro. Porém, nada que venha a considerar Rousseau um “socialista”. O que ele pretende é a demonstração de que a civilização pode ser uma necessidade para a melhora da condição da vida, mas isso não significa uma satisfação de viver.
O que não se pode negar é o poder e a influência que as teses liberais tiveram ao longo da história. A mudança que os ideais liberais estabeleceram nos quatro cantos do Planeta. Os movimentos revolucionários liberais ocorreram inicialmente na Inglaterra, nas Revoluções Inglesas do Século XVII. Esta, fundamental para promover um século depois a Revolução Industrial.
Os movimentos liberais também chegaram nas Américas. A Independência dos Estados Unidos da América (1776) deu início a uma série de movimentos nas colônias ibéricas e latinas. O Haiti foi o que sucedeu de imediato a independência norte-americana (1791).
Porém, o momento de maior significado entre as revoluções liberais e que marcou a História ocidental foi a Revolução Francesa (1789). A maior monarquia absolutista da Europa ruiu. Gerou uma onda de movimentos revolucionários na Europa. A própria Revolução Francesa teve inúmeras fases e acabou por invadir e instalar mudanças em outras nações da Europa.
Não por acaso o liberalismo é a forma de governo adotada em inúmeros países do mundo e se demonstrou como a ideologia de grande influência na História Contemporânea. A representatividade e a democracia, mesmo que ameaçadas em muitos momentos, se mantém, como afirma Aristóteles, a menos ruim entre as formas de governo.
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