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Onde repousa a dignidade humana? Não há muitas gerações que o trabalho já foi o principal fator de identificação da vida das pessoas em sociedade. Era através do trabalho aprendido e remunerado que a emancipação se realizava. Para muitos dos que tem mais de quarenta anos, o trabalho apareceu de forma “natural”. Bateu a porta de casa e fez o convite ou sequestrou o jovem para o mercado.
Inúmeras histórias contadas pelos nossos avós, de forma orgulhosa, tem o trabalho no centro da retórica. O que conquistou por ele, o quanto tempo trabalhou em uma empresa e a profissão que lhe deu o conhecimento sobre a vida e as pessoas. A existência e a condição passava intensamente pelo trabalho.
Nossa sociedade já tem mais esta identificação intensa. Grande parte dos jovens penam para ingressar no mercado de trabalho ou se interessam por ele muito tarde. A busca de uma posição em atividade remunerada agora já não entra nas casas e se pronuncia de forma fácil. O trabalho se tornou mais seletivo, isto é uma verdade.
Contudo, há o outro lado de sua busca. Quantos resistem ao trabalho por desejar muito mais o que ele é capaz de nos dar como poder de consumo. Querer o labor não é a realização pela atividade que se faz, mas o que o ganho pode me dar. É o consumo que me alimenta e não o que pode me garantir a condição financeira para praticá-lo.
Os prazeres da vida cercada da estética e da retórica publicitária se tornaram a referência para o sentido das nossas ações. A relação entre os seres humanos não consegue se estabelecer sem a intensidade da ambientação para o consumo. As coisas fazem muitos se sentirem mais vivos dos que os seres humanos que estão a sua volta.
Esta idolatria das coisas esteticamente dispostas e desejadas dá a sensação falsa de realização da vida. A vitória se resume agora em um troféu e não em todo e esforço para consegui-lo. Em um passado não muito distante, o prêmio pela vitória era o resultado de um esforço que dava sentido ao reconhecimento. Hoje, a estética, a aparência da conquista dispensa ser comprovada. Se compra o prêmio para se sentir premiado.
Neste sentido, os rituais de muitas civilizações demonstram o quanto era importante a passagem da puberdade para a fase adulta. Os jovens guerreiros, em muitas sociedades, tinham que comprovar sua coragem, esforço, sabedoria, habilidades, para receberem no corpo uma pintura ou um objeto que expressasse sua conquista. Hoje, esta simbologia dispensa o esforço e o mais insignificante e covarde entre nós carrega seu troféu sem merecimento.
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